O verão já se foi, o
sol já se pôs e pus-me também. Pus-me a esperar pelo abraço que não veio e pelo
adeus que eu não ouvi. Aguardo que o telefone toque, que sua voz falhe e se
cale vez ou outra; imitando as vezes em que só eu digo, repito e meço sem
êxito o tamanho da minha saudade; inventando uma maneira petulante de medi-la,
buscando um modo de convencer-te com palavras vãs de que eu a sinto e de que é
imensa.
Pense, por um
minuto sequer, em todas as verdades que eu dissera em tempo recorde. Ponha na
balança essa nossa dança de sorriso e sarcasmo e abraço –
nunca amasso. Pese o que construímos, admita que não
é leve e nem é breve, jamais será. Confesse que a única coisa leve é o seu
humor ao me ver sorrir. Então permitir-me-ei ser frágil, livrar-me-ei da
minha armadura sem dó ou amargura se isso o satisfizer.
Só não se ausente,
chegue de pressa ou de repente. Apenas não minta e nem demore. Se diz ser
recíproco, chegue agora. Faço questão de roubar-te o papel, ser a irônica por
instantes e não admitir com veemência o indiscutível: não admitirei de forma
alguma; não admitirei ter que esperar-te até o próximo verão, por isso proponho
que sejas presente. Hoje e sempre.
Gostaria de esclarecer dois pontos: escrevi esse texto há um bom tempo; e acho que eu e o violetas estamos de volta à parte daquele tempo bom de escrever sobre a vida.