quarta-feira, dezembro 22, 2010

Falta-me (um) ser.


   Faltam-me as asas, assim como, também me são escassos o altruísmo em excesso e a paciência. Falta-me a auréola, a qual imita perfeitamente a ausência da sua amizade e compreensão por mim. Falta-me a luz mágica, a qual curaria docemente tudo que sentisse o leve toque das minhas mãos finas e quentes. Falta-me um terço da minha paz interna, o que dificulta que eu distribua a felicidade como quem entrega flores e fica com o perfume nas mãos após terminar o serviço. Falta-me o seu olhar de alívio, para que eu possa me despedir com a consciência esbranquiçada. Falta-me coragem para arriscar e voar, mesmo enquanto os meus pés permanecem a acariciar o chão de terra batida. Qual dos incrédulos lhe disse que só é possível voar física e literalmente? Falta-me ânimo para consertar todas as mentiras que implantaram bruscamente em seu coração. Falta-me sentar e esperar ver o mundo de novo, encará-lo severamente e ensaiar algumas broncas para atirar-lhe na face, mesmo que essas sejam atenuadas pelo prolongamento inconsciente de um sorriso faceiro em meu rosto, diante de tantos disparates e doces histerias. Falta-me uma grande caneca de café quente para que eu possa admirar ingenuamente a fumaça que sobe, enquanto escrevo um romance e vivo outro com o lápis e a folha em minha destra, um dos raros que me acompanhará eternamente. Faltam-me alguns cachos, os anjos sempre os têm. Falta-me na verdade ser um – ainda que provisório – anjo.





sexta-feira, dezembro 17, 2010

E todos por um.

   Ao longe, as raras árvores que ali estavam cochichavam e especulavam sobre o possível dilema do casal mais a frente. Porém, somente a estrada junto à vasta grama, de um verde vivaz e um silêncio comum, pôde presenciar e quase sentir o drama estampar o rosto do rapaz assim que ele percebera que Joana já o esperava. Enquanto isso, a mesma aflição fazia cintilar os olhos da bela moça, mesmo que ele ainda não pudesse ver este último.
  
   A amizade que a eles unia era de longa data, mas há tempos havia se desfeito de um modo frio e inexplicável. E isso rendera longas noites de insônia e pares de olheiras à jovem que não se conformara com o fim. Na verdade, eram três: Joana, Cássio e Arthur. Os três mosqueteiros, assim era como eles se autonomeavam na infância. Mas hoje, crescidos e distantes, há cinco anos, não cumprem o antigo imprescindível dilema de “um por todos, e todos por um”. As lágrimas de tristeza e os turbilhões de saudade e angústia vieram quando os dois irmãos, Cássio e Arthur, se mudaram do país, sem ao menos se despedir. Joana nunca se conformara ou compreendera o que os levou a tal atitude, e perdoá-los seria ainda mais complicado.

  – Você continua linda. – Cássio disse num tom sério, enquanto encarava fixamente a moça.

  – Certamente o assunto que o fez lembrar-se de mim não é a minha beleza. – Joana retrucou séria e fria enquanto virava-se para vê-lo.

  – Sim... Mas obrigado por ter vindo. – O tom de Cássio era cortante, e os olhos sempre fixos em Joana.

  – Era isso que pedira na carta. – Ela disse dando-o as costas, enquanto lutava contra as lágrimas.

  – Eu sei que eu e o Arthur agimos de uma forma muitíssimo ruim, viajamos sem nos despedir. E isso também nos magoou, mas é que nós descobrimos...

  – Descobriram que nós não somos mais crianças, e nem todos por um não é? – Ela o interrompeu e prosseguiu. – Sabe... Desculpe-me Cássio. Na verdade, foi horrível estar aqui sem vocês, sem notícias. Eu só precisava ouvir a voz de vocês. Eu amo tanto vocês dois, sempre os amei. E peço perdão por estar lhe tratando tão mal. – Ela não tinha coragem para virar-se.

  – Joana, querida! Sinto muito, mas o Arthur não está mais aqui. Ele se foi, e para sempre. Ele não queria que você soubesse que ele estava doente, por isso viajamos.

  Joana levou a mão à cabeça, estava zonza e o seu cérebro processava a triste informação. É claro que saber tão abruptamente da morte de seu querido amigo de infância a deixou em choque, paralisada. As únicas palavras que conseguiram escapar dos lábios foram:
  – Não, não! Por favor Cássio, vá embora! Chega de mentiras. Por que você está fazendo isso comigo!? – Ela disse isso aos prantos, porém de uma forma fraca e inconformada, literalmente em choque.

  – Perdoe-me Joana! Eu também sinto muitíssimo. Sei o quanto isso é difícil para todos nós. Mas irei respeitar a sua vontade... Vou deixá-la sozinha. Mas, se você quiser o meu carinho e consolo eu estarei por perto. Eu voltei a morar na antiga casa amarela. – Ele se despediu assim, deixando que algumas lágrimas insistentes tocassem o chão. Ele se fora em total silêncio e angústia.

  Joana chorou copiosamente durante alguns segundos, os mais longos e tristonhos da sua vida e decidiu-se, aturdida e confusa, ir atrás de Cássio. Ela o alcançou após curta corrida, e gritou afogada em lágrimas:

 – Cássio! Diga-me que é mentira, que tudo é apenas um pesadelo.

 – Não, Joaninha, infelizmente é real. – Ele a abraçou de um modo lindo, as gotículas gélidas também caiam de seus olhos. Sentaram-se na grama, a qual não demonstrava a vivacidade anterior, e permaneceram ali longos minutos. A conversa fora mantida pelas trocas de olhares e consolo. Ainda que a incomensurável e insuportável tristeza percorresse cada artéria de Joana, ela ainda possuía a amizade de Cássio.

  Pauta para o projeto Bloínques, 7ª Edição roteiro.

 Essa é a minha segunda participação no protejo Bloínques, e a primeira na edição roteiro. O texto ficou extenso, eu sei, mas espero que agrade.

 Mil beijos, queridos!                                                                                                        

terça-feira, dezembro 14, 2010

Esconderijo !


   Passos regulares amassam as folhas que, castigadas pelo tempo, caíram das árvores imitando as do outono passado. Um após o outro, os passos se completam e acompanham ritmadamente o “entra e sai” do ar nos meus pulmões. A caminhada, então, torna-se uma corrida, enquanto eu me transformo em vulto. Todo esse êxtase se expande pelas minhas artérias após eu avistar a minha perpétua e diária barreira dos últimos trezentos e sessenta e cinco dias. Amarela e estática, como sempre, ela me convida a atravessá-la e quase sorri. Do outro lado do muro é onde eu me refugio, o que torna todo esforço e confronto extremamente fácil ou válido. Basta que eu pule! E então, sem bloqueios posso me submergir em paz e liberdade, calmaria.

  Sentar-me-ei no piso frio, um tanto sujo, e observarei a felicidade presente em cada gota d’água que me acolhe. Recordar-me-ei de todas as vezes que aqui estive na esperança de afogar –literalmente– as minhas tristezas e desencantos. Vez ou outra eu recobrarei o auxílio do oxigênio, para que este renove o meu fôlego e eu torne a mergulhar. É tão agradável estar aqui, protegida e só. Mesmo com a chuva, fina e fria, que cai agora a água se mantém morna e eu me sinto leve. Se eu fechar bem os olhos, posso jurar estar voando.

  Infelizmente, não é sempre que eu posso estar aqui. Confesso que a minha presença aqui é um segredo, ou pior, aqui estou “às escondidas”. Mas é incontrolável, ela sempre está aqui tão solitária e tristonha... Sempre que eu vejo a casa ao lado vazia é um encanto só: Eu venho de pressa, pulo o muro e nado na piscina alheia até reorganizar os meus pensamentos. 

 Ah, eu me esqueci! Só para esclarecer. Algumas pessoas devem pensar que eu estou louca por ai, pulando muros e usufruindo de piscinas alheias. Não, não. Meus vizinhos não têm piscina, portanto, eu não serei presa por invasão domiciliar, rs. Mil beijos, e obrigada pelos comentários que estão cada vez me deixando mais contente.                                                                                

segunda-feira, novembro 29, 2010

Porque eu sou agridoce, e você é míope.

    A porta permanece destrancada como sempre esteve. O vento, que ao entrar pela janela faz dançar a cortina branca de bordado, traz consigo o som da liberdade que grita pelo meu nome. É um convite inestimável e quase irrecusável, o de se aventurar nessa manhã de céu anil e cheiro doce. Mas, eu sou agridoce e nada do que está do lado de fora me atrai ou encanta. Eu preciso ficar aqui quietinha, dentro de você, analisando de perto todas as formas que compõe o seu trejeito. O seu coração é a minha biblioteca predileta, e eu opto por me manter afogada em pilhas de papeis, documentos antigos e velhos livros que eu encontrara casualmente. Quem sabe essas páginas, amareladas pelo tempo, não me contam mais sobre você?

    Eu tomei posse desse quartinho, de paredes azuis, que eu descobrira dentro de ti. Aqui, eu possuo o que me fascina: Boas músicas, lindos desenhos, ótimas histórias e o seu incomensurável bom humor... Eu já não ouço o reclamar da liberdade, a qual insistira em ter a minha companhia. Certamente, ela se convencera de que, vivendo assim, eu e você somos mais livres e felizes. Pressuponho que o mundo não me esperará eternamente, no entanto, isso não me é importante. Eu quero o que eu não vejo, só sinto. Por isso admiro tanto a maneira míope como você observa tudo.Você me traz felicidade, eu só lhe peço para não deixar de enxergar os meus inúmeros defeitos. Porque eu sou agridoce, e você é míope.     
 Espero que o fim não anule o início.


  Desculpem-me por não estar postando com tanta frequência. Quanto ao texto, esse é bastante paradoxal para mim... Ao mesmo tempo em que é leve, e me traz boas lembranças, também me soa um tanto tristonho. Espero que tenham gostado. 
  Mil beijos.
(fonte da imagem: abril.com)

  P.s.: Hoje (28.10.10) eu fui indicada pelo Fê Faverani a 2 selos que inclui o "Desafio dos 7". Agradeço pela indicação e carinho, aqui esta o desafio!

segunda-feira, novembro 15, 2010

Eu sou: Vitória ou Régia?

  Os meus dias têm sido incomuns e assustadores. Semana passada, por exemplo, eu encontrei uma estranha em meu quarto, a qual me atropelara com centenas de perguntas, com questionamentos dignos de um investigador criminal. Eu juro não ter entregado a nenhum desconhecido a chave de minha casa e as dúvidas de minha vida. Eu sempre me mantive severamente reservada e impenetrável, assim como as portas e janelas de onde eu moro. Após o susto, eu tentei expulsá-la com pressa, mas a perdi num átimo ao pestanejar incrédula pela décima vez. Odiei a surrealidade de como a minha visitante viera e se fora instantaneamente, sem ao menos despedir-se. Eu me surpreendi seriamente ao notar que agora havia apenas eu e o meu reflexo refletido pelo espelho –Talvez, seja melhor assim– eu pensei sozinha, enquanto me indagava se eu estava realmente lúcida. Porém, o que me arranca o sono e furta a minha tranquilidade é saber que, novamente, eu não me reconheci. Pois, era eu quem houvera me visitado.

   Desse dia em diante, o passado me visita e me atormenta com um único flash back. Desfilam frente aos meus olhos as recordações de uma noite de acampamento... Vejo-me, nessa lembrança, afastando-me dos meus amigos, seguindo impetuosa e distraidamente a grande esfera branca que ilumina o céu, a qual se encontrava cercada de pontinhos cintilantes. Adoraria que, ao tocá-la, ela clareasse igualmente a minha vida. Segui-a até encontrar um vasto lago, tão sereno e sedutor, o qual refletia a lua e me atraia, fazendo-me esquecer da água possivelmente fria, da profundidade e do perigo de esbarrar com outras lendas... Quando eu olhei para mim, era tarde: A escuridão da noite fundiu-se a do lago, a água abraçava a minha cintura e eu me sentia estranhamente feliz por me aproximar da lua que enfeitava o lago. E após isso, eu conseguia sentir o frescor e a pureza da água em meus lábios, já que essa me invadia a boca, o nariz e ouvidos. O lago engoliu-me carinhosamente naquela noite. 

   E hoje, ao término desse flash back, que me ocorre diariamente, eu entendo porque eu não me reconheço de antemão ao encontrar-me comigo mesma. Eu compreendo porque eu não consigo dizer quem sou eu. Esses fatos se dão por há tempos eu ter deixado uma parte de mim se perder, se afogar. Permaneço, então, como um cubo mágico incompleto.

A Lary me propôs a muito tempo escrevermos (eu, ela e Clarinha) textos sobre crise existencial. Desculpem-me pela demora meninas!

 Mesmo parecendo não ser, esse é um texto sobre crise existencial. Eu esquivei-me do padrão dos textos sobre esse assunto, eu sei, e a princípio essa nem era a minha intenção, mas as palavras assim o desenrolaram. Espero que o texto não tenha ficado muito confuso e que a mensagem, mesmo estando implícita, tenha sido entendida. Ah, peço desculpas pelo tempo sem postar, é que eu estava sem poder usar o computador e não tenho escrito com tanta frequência. Mil beijos.

sábado, outubro 30, 2010

Distante.


 Enquanto o sol a beija, imitando a brisa fresca do mar, a escultura de bronze já não emite a luz do seu brilho original. A sua cor agora é de um dourado envelhecido, quase negro. De seu habitual lugar, ela sempre olha com admiração os vendedores ambulantes passarem com as suas inacabáveis mercadorias e quinquilharias, todas tão coloridas, carregadas nas mãos ou como os seus condutores conseguirem. Sendo esse modo, por vezes, desconfortável para ambos. Porém, eles nunca se esquecem de perdurar o velho e largo sorriso que lhes enfeita o rosto, e o fazem independentemente do perpétuo fardo que lhes castiga as costas e prejudica os passos. Mas, ela sabe que a felicidade que a eles pertence e irradia não lhe pode ser vendida ou emprestada. No entanto, ela deseja senti-la. Dali, estática, ela vira inúmeros casais passearem e deixarem as suas pegadas, junto às promessas pronunciadas e aos corações desenhados, na areia da praia. Presenciara as crianças correndo, brincando de pique e transbordando de uma alegria imensamente ingênua, simplória e invejável. Fitara também pessoas solitárias, as quais transpareciam buscar paz... Sem pressa, elas sentavam-se em uma pedra qualquer e fechavam os olhos, enquanto sentiam o vento afagar o seu rosto. Quanto a estátua: Nunca lhe disseram um “oi”, e ela jamais escutara algo sobre o amor, fé e felicidade. Contudo, ela os assistira e os almejara diariamente, e poderia dizer perfeitamente como era cada um. Assistir ao amor fez dela amável, admirar a fé fez dela fiel e fitar a felicidade fez dela feliz. 


Imagem: Estátua da Brigitte Bardot em Búzios.

As vezes nos julgamos abandonados, sem nada e ninguém! Mas não percebemos que o que tanto sonhamos está ao nosso lado... Ou melhor, pode estar dentro de nós mesmos. Espero que possamos enxergar a proximidade do que nos faz verdadeiramente feliz. E mais que isso, eu espero que, além de percebê-lo, possamos também tocá-lo... 
Mil Beijos C=

terça-feira, outubro 19, 2010

Lixo.

 No início eu sonhei com o dia no qual você viria me buscar, e ao puxar-me para ti não me empurraria mais, e eu me permitiria odiar menos a comum expressão escrita em portas: “puxe, empurre”. Mas há cinco anos eu me encontro aqui, livre e constantemente só, largada ao chão e aos vermes, sendo ambas as minhas fiéis e indesejáveis companhias. Porém, saiba que eu já me acostumei com a dor e com a superfície gélida que me acolhe, e prefiro mesmo me manter aqui... Ou pior, eu apenas não quero admitir a minha escassez de forças para levantar-me num salto, com uma alma nova e brilhante.
 Até ontem, eu não almejara e nem imaginara sublevar-me, mas o seu incomensurável magnetismo me obriga a isto, e antes que eu me ponha de pé, esse imã inconveniente me puxa com brutalidade, furtando-me de mim mesma e da minha solidão, arrastando-me pelas ruas desta cidadezinha velha e esquecida. E a esperança finalmente se recompõe e me diz ser você, mas eu não sinto o seu doce perfume e também não ouço o tenor de sua voz, o que me preocupa. Classifico-me, então, perdida! Atraída e arrastada rudemente por uma força estranha, de origem invisível e intocável, que após certo tempo finaliza-se. Eu adoraria receber de ti um coração e amor novo, puro, impecável... Mas caso isso não seja possível, recicle o meu velho coração enquanto é tempo! Isso já me basta. 

sábado, outubro 16, 2010

Proibido estacionar.



 Sinto-lhe escapar de todas as armadilhas que eu, minuciosamente, montei para capturá-lo e isso, acidamente e assiduamente, corrói as beiras da minha esperança, que de tão longínqua e inatingível torna-se poeira cósmica. Opto, então, por apelar e peço-lhe: – Não olhe para o lado, me responda. Não seja tão tranquilo e compreensivo, reaja! Abandone toda essa inércia. Grite comigo, ao menos desta vez. Faça-me sorrir, ou chorar, não importa. Ofereça-me os seus sentimentos e desperte os meus. Conquiste o meu amor, ou ative o meu ódio! Tire-me, mesmo que contra a sua vontade, desse nada, desse imenso vazio! Permita-se conhecer, deslocar-se, transformar-se, por mais que isso pareça ser ameaçador. Ainda não sei de qual fantasma você se esconde, então, me responda ao menos isso: Permanecerá estacionado para sempre em seus medos e fraquezas? Nada o comove, o alegra, o entristece, tens sido a apatia em pessoa. Confesso que há tempos eu não vejo luz em meus dias, e isso precisa ser mudado... Até quando, então, me deixará sem o seu largo e belo sorriso? Eu adoraria sentir novamente os raios de sol em minha pele.

sexta-feira, outubro 08, 2010

яomA.

“E hoje a noite não tem luar
E eu estou sem ela
Já não sei onde procurar
Não sei onde ela está”
 (Legião Urbana) 
   Todas as noites, nos três primeiros segundos em que o manto negro e estrelado encobria o céu, a mesma pane se repetia: os batimentos cardíacos do jovem rapaz eram interrompidos por um motivo totalmente desconhecido e aterrorizante. Ele desejava ardentemente que o seu surrado coração voltasse a bombear o seu sangue. Assim, também, ele esperava que ela tornasse à sua vida, e trouxesse consigo, em uma caixa, sacola ou no próprio bolso, a felicidade que lhe furtara, inconscientemente, pouco antes de partir. Suscitar-lho a vida seria muitíssimo fácil para ela, e a jovem faria isso majestosamente, como já o fez em um passado remoto, do qual ela tentara se livrar. Porém, mesmo queimando as fotografias em preto e branco, as quais alimentavam a lareira de sua clássica sala, ainda assim, a mente dela permanecera submersa em lembranças boas, que lhe traziam saudade e lhe tiravam a saúde.  
  – E então, até quando? – a bela moça sempre se perguntara de frente para o espelho – Até quando a responsabilidade de torná-lo feliz, e vivo, estará sob o meu cetro, e vice e versa? E ela realmente aguardava ansiosa, por uma resposta que viesse de seu interlocutor mudo, mas aquela era uma pergunta retórica, e ela sabia que seria sempre assim, que só a sua presença e sorriso poderiam consertar a eventual pane. Ela, portanto, resolveu levantar-se e deliberadamente optou por salvá-lo novamente, pois somente assim ela salvaria o seu próprio, e surrado, coração.
 
As vezes, nós pensamos estar fazendo algo muito bom para os outros, mas não notamos o grande bem que isso pode causar a nós mesmos. Quando eu comecei a escrever esse texto, a partir de uma frase que minha mãe disse em certa ocasião, há um mês, eu pensei que esse texto tomaria um rumo diferente, e na verdade já tinha tudo planejado na cabeça, mas o foco mudou, e muito! Enfim, esse é um texto especial demais para mim, e gostei da história ter mudado o rumo que eu imaginara anteriormente. Mil beijos. C=

quinta-feira, setembro 30, 2010

Estátua súbita.

      Imagem do filme: O sorriso de Monalisa
 A neve caia lá fora, lenta e ininterruptamente, e o raro vento frio que ousou invadir o seu refúgio fora suficiente para congelar o sorriso que se expunha na face de sua velha e amada amiga. O ar seco pesou a sua respiração e somou forças a sua constante tristeza, induzindo-o a se esquecer se eles eram ou não felizes, deixando-o em dúvida: Será que os vossos corações transbordavam da mesma alegria que iluminava os vossos lábios? Ou aquele momento fora apenas uma pose, estátua súbita, uma encenação para que fosse realizada a pintura em uma tela em branco, a qual agora possuía um admirador extasiado com o seu tangível realismo e perfeição? Porém, ao se aproximar da cena, ele obteve uma resposta para a pergunta que o sufocara anteriormente: Não, o que lhe encantava os olhos e a alma não era uma bela pintura, por mais imóvel que fosse. Mas, sim, suas lembranças esculpidas no gelo, tão sólido quanto o seu vivaz desejo de reviver os momentos recordados e recortados de seu coração amargurado. 

  Sim, eu estou de volta! Estive dodói, mas já estou bem, e também estive um pouco cansada, o que não me estimulou a postar. Ah, sobre o texto... Eu gosto desse texto, mas penso que ele ainda não expressa exatamente o que eu queria, mas está quase lá (99,9% do que eu pretendia). Confesso que eu fiquei receosa desse se tornar um texto confuso demais, porém ainda assim essa foi uma transliteração límpida e sincera. E talvez eu escreva uma continuação para essa história, espero que tenham gostado e que a mensagem tenha sido passada. Mil beijos.  C=

sábado, setembro 11, 2010

V de viole(n)ta, e vingança!

Heath Ledger | Coringa (O Cavaleiro das Trevas, 2008)

E se eu usufruísse do passado como escudo,
Afugentar-me-ia do presente e da batalha futura?
Eu adoraria ter como curinga um ponto final.
 Isso me aliviaria do insolúvel e perpétuo fardo de comandante.

E se eu deixasse a deriva o meu belo e velho navio,
Esquivando-me completamente do que me tornou (in)feliz até hoje...
Vocês me perseguiriam e me odiariam para todo o sempre,
Por terem tido como capitão, e heroi, um iniludível covarde?!

Vocês conseguiriam arrancar pela raiz todas as violetas plantadas,
Todas as gloriosas façanhas executadas por vós, sob o meu auxílio?
Teriam de fato uma incessante e voraz cede de vingança,
A qual queimaria de vossas memórias as nossas vitórias anteriores?!

Se a tiverem, ofereço-vos, então, o calor imensurável do sol,
Para que este duplique vossa cede e fúria e, consequentemente, força.
Enquanto, espero-vos tranquila e sarcasticamente.
Como quem espera a morte, aperta a sua mão, e a segue alegremente! 

 Eu imagino que vocês estejam se perguntando: o que o texto tem a ver com o Coringa?! Bem, a princípio nada, mas pra mim tem sim. O Coringa sempre foi o meu personagem favorito e, assim que terminei de escrever esse texto, eu fiquei com imagem dele na cabeça, rs. Esse texto me lembra muito o Coringa, não sei o porque... Talvez, por ele sempre possuir um truque, e por ser um tanto violento e vingativo. Pelo seu sarcasmo, impavidez e insolência, os quais lhe permitiriam esperar pela morte, cumprimentá-la sorrindo e segui-la. Por isso eu resolvi, então, colocar a sua foto aqui. Beijos e espero que tenham gostado do texto.

 

segunda-feira, setembro 06, 2010

"Aqui jaz um coração" ♪


  Vê-lo seguir o mesmo caminho que eu era ter em mãos dois sonhos, e senti-las quentes ao seu toque. Sonhos esses que me manteriam nutrida, caso eu me sentisse fraca e com fome. O primeiro era doce e saboroso, feito em padaria, levado ao forno quente, e alimentaria o corpo. O segundo era apenas devaneios, imagens vislumbradas, vivas, quase tocáveis que sustentariam as minhas expectativas. Eu sonhei com tanto vigor e insistência, mas não somei com a mesma frequência. Eu não acresci forças às minhas esperanças, nem amor às minhas atitudes. O calor nas mãos já não me era suficiente, e por isso me tornei mais fria e menos viva. Longe da trilha, do trajeto inicial, parei em uma ilha. Longínqua, estranha e extraordinária, eu diria; Deserta: O cemitério dos sonhos desprezados. Sentei-me de pressa e, sem me importar com a terra escura que sujava a minha roupa, comecei a cavar. Logo eu me senti cansada, o suor deslizando sobre as minhas têmporas, mas não me interrompi. O meu olhar transbordou de alegria, eu expirei felicidade. Eu pude sentir o ambiente se iluminar com a luz que emanava de mim e de minhas mãos. Ao resgatar o amor, que eu deixara para trás no decorrer do tempo, eu tornei à vida.
  

  “Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada.”
     I Coríntios 13, 2
  
                   
* Título: Trecho da música Mais que um mero poema – Rosa de Saron.

 Espero que tenham gostado do texto, que tenham o lido com a alma. E que a caridade (o amor) esteja sempre presente em cada um de nós, em cada atitude, palavra e momento de nossas vidas. Mil beijos. Um grande abraço para Clarinha que me indicou a um selo *-* , e eu vou repassá-lo para meus amigos André, Bruna e Lary, e ao sentado no gramado e donzelas em perigo. A regra é responder às perguntas: 
1- O que te inspira? Deus, ler bons livros, observar o mundo e o sorriso das pessoas, estar com amigos, boa música, natureza, sentimentos...
2- sobre o blog da pessoa que te indicou: Bem, eu adoro os textos da Clara, me identifico muito com eles, o blog dela é lindo e me inspira bastante. Ela tem um talento imenso e suas crônicas são tocantes e me fazem bem. Fico feliz demais por ela dividir com os leitores seus textos e sentimentos. C=

domingo, setembro 05, 2010

Companhia.


  
  E, finalmente, eu desenharei em meu rosto o mesmo sorriso sem graça de sempre. E eu não esperarei por sua reação ou resposta, eu simplesmente virarei as costas e sairei andando, como quem pula o capítulo de um livro. Confesso que costumo ser um tanto apressada, lendo de antemão a última página dos livros, por desencargo de consciência, ou talvez para certificar-me de que a história terá um final feliz. Caso contrário, eu fecharei o livro às pressas, o olharei espantada, e atirá-lo-ei na parede mais próxima. E entre os raros passos que eu darei até o meu amigo, que se encontra junto ao chão, estarei ansiosa, entusiasmada e apreensiva, só de imaginar o dano que posso tê-lo causado; Algumas páginas amassadas, uns arranhões na capa e, se eu estiver com sorte, umas folhas estarão soltas. Eu não vejo mal algum em ter antecipado a minha vingança, ao menos assim eu me sentirei mais leve e alegre, independentemente do triste fim que esteja por vir. E me permitirei, portanto, recolher do chão o meu doce fingidor, contador de histórias infelizes e melancólicas, e acolhe-lo em meus braços. E feito isso, abri-lo-ei em sua primeira e bela página amarelada, e retomarei a minha leitura, a qual eu abandonara, antes mesmo de tê-la começado verdadeira e oficialmente. Eu me relembrarei, no entanto, de que você não é como um livro, e sim um ser humano. Pena, que eu me relacione melhor com os livros! Eu continuarei, então, andando de costas para ti, até que você me veja sumir no horizonte, com meu livro nos braços e meu sorriso nos lábios, mesmo que você não possa ver este último.


 Bem, esse texto acabou por transcorrer caminhos que eu não esperava, e talvez, não conhecesse. Mas gostei muito de tê-lo escrito, me senti mais leve por isso. Espero que tenham gostado e que percebam a mensagem, a qual pode estar atrás das palavras. Beijos, e um grande abraço aos que comentam com o coração, isso me faz bem!

domingo, agosto 29, 2010

Conjugue o verbo saber.


   Talvez você não saiba, mas durante todo esse tempo eu estive aqui embaixo observando o seu voo. Saiba que, caso você alcance o seu destino, desembarcará, de sua asa esquerda, suas petulâncias e orgulhos. E após isso, seu voo se tornará mais leve e suas manobras mais belas e eficazes... Fato esse que me deixará cada vez mais encantada. Os meus olhos fixos a te fitar, sem perder qualquer movimento seu, brilhariam como o sol, caso você se atrevesse a aterrissar ao meu lado. E se eu não possuísse a sua constante ausência, lhe pediria: – Ensine-me a voar que, em troca, ensinar-te-ei a sorrir. Porém, admito que essa seria, também, uma desculpa, com a pretensão de prendê-lo a mim, como uma tatuagem. Será que não sabes que, logo, o cansaço lhe fará companhia e o impedirá de voar, pássaro estúpido?! Eu odiaria ver o seu tombo, então, lhe peço que fique um pouco mais, e não se arrisque com tanta frequência. Mas, se a incontrolável e intrigante vontade de ser livre se manifestar em ti, então, pegue-me pelo braço e leve-me contigo. Eu adorarei experimentar o vento forte em meu rosto, o coração acelerado, mesmo que por um curto período de tempo. Confesso que durante esse tempo, te analisando de longe, eu conjuguei o verbo saber, começando por: Eu sei o quão imperfeito é você. Mas hoje, aprendi a conjugar melhor e te julgar menos – eu sei que você nunca soube, mas eu sempre estive ao seu lado.

Eu sempre fui bastante observadora, e mais uma vez escrevi uma história (essa) após observações, e mesmo que essas palavras tenham vindo e sido escritas por mim, acho que o personagem real dessa história gostaria de dizê-las. Tentei traduzir o que tal personagem parece sentir. Espero que tenham gostado do texto, o escrevi com calma, respeitando o tempo em que as palavras queriam ser escritas, e ele me passa tranquilidade. Ah, hoje é aniversário do meu irmão: Parabéns para ele, eu te amo demais Vini ! - Mil beijos.
  Carol C=

segunda-feira, agosto 16, 2010

Sorria falsamente e seja um hipócrita infeliz!


 Nossa relação é recíproca e inabalável. Eu sempre lhe faço companhia: Tu és meu hábitat, e eu sou o seu hábito. Então, seja zeloso e trate-me bem. Manipulá-lo é extremamente fácil e agradável, não encontro dificuldade alguma para a execução de tal tarefa. Quando me exponho e imponho, vejo o brilho em seus olhos: amor e ódio, duas faces da mesma moeda. Ódio de si mesmo, por ser tão influenciável e contraditório, por sempre se render tão de pressa. Ódio de mim, por eu ser um dominador tão perfeito e estar assiduamente presente em suas palavras e atitudes. Alerto-te: a morte de minha rival, a sinceridade, foi sádica e friamente calculada, não por mim, mas por você e pela sua querida superficialidade. Não revire os olhos e nem atravesse a rua; Não finja que não me conhece, pois até para isso você precisaria de mim. Seja você, sincero, ao menos desta vez, olhe-me nos olhos e diga não precisar de mim. Mas, antes, me responda: Se não fosse por mim, como você usufruiria de todos os seus falsos sorrisos e promessas? Bem... Vemos, então, que já não vives sem me solicitar. Espero que, um dia, você possua a verdadeira coragem, respire fundo e deixe de ser tão hipócrita; Pois, o que tens por mim não é ódio, nem amor, e sim dependência. Convives comigo há tanto tempo, e nem sabes o meu nome! Apresentar-me-ei, então: – Prazer, o meu nome é hipocrisia, e suponho que o seu seja hipócrita. Certo?

   
  "Que vossa caridade não seja fingida." Rm 12, 9    

 Mil beijos, Caroline C=

terça-feira, agosto 10, 2010

II. "Temos nosso próprio tempo" ♫


 
 – Obedeça-me, pelo menos desta vez! – Esse foi o meu único pedido ao tempo. Inútil, eu deveria acrescentar. Assim como as folhas no outono, as minhas lágrimas também se secaram; Mas o erro e desobediência do tempo foi trazê-lo, ou não ter impedido que ele voltasse. Eu jurava que havia o esquecido; Não temporariamente, nem por mágoa, e sim pela minha constante memória ruim. Eu acreditava não me lembrar como ele era, e talvez isso fosse normal, depois de tanto tempo distante. Porém, a única lembrança que eu me permitia ter era a de sua letra elegante no papel amassado. Pena que as palavras escritas não foram as que eu desejava. Inesperadamente, eu o avistei, e o reconheci, após pestanejar, incrédula, uma ou duas vezes. Recordei como era o seu sorriso, o qual, hoje, não era tão reluzente como antes. Porém, eu já havia imaginado que o brilho se desgastaria com o decorrer dos dias. Não importava, pois ainda era o meu sorriso - pensei enquanto baixava o olhar. Ele não se aproximou, tinha o olhar triste e o seu sorriso inicial fugira de seus lábios. Talvez, ele estivesse constrangido pela coragem que não teve para dizer adeus tempos atrás; Por ter transferido para um papel a função de se despedir. Assumo que não foi o adeus que me arrancou lágrimas, e sim a saudade antecipada, a falta do abraço na despedida. Agora, ele tinha o olhar baixo, talvez ele esperasse que a minha reação fosse de distanciamento e hostilidade. Enganou-se. Correr não seria o suficiente, mas era o que estava ao meu alcance. Corri ao seu encontro, ele sorriu e me abraçou: o mesmo abraço de sempre, o meu abraço. Entregou-me uma pequena folha de papel e beijou-me a testa. Fiquei apreensiva e trêmula, desdobrei de prontidão o papel, o qual dizia em minha caligrafia predileta: Quase morri de saudades, obrigado por ter me esperado. Desculpe-me ter demorado tanto.  

 " Veja o sol dessa manhã tão cinza. A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos. Então me abraça forte, e diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo. Temos nosso próprio tempo. Não tenho medo do escuro; Mas deixe as luzes acesas agora; O que foi escondido é o que se escondeu, e o que foi prometido, ninguém prometeu. Nem foi tempo perdido; Somos tão jovens."                        Legião Urbana - Tempo Perdido

 Esse meu post, que é a continuação do anterior, faz com que eu me lembre sempre da música acima, e por isso a coloquei aqui, além de ser uma música que gosto muito. Espero que tenham gostado.
  Mil beijos C=  

sexta-feira, agosto 06, 2010

I. TemporárioTemporalTemperamental.


  
     Há momentos da vida que sofreremos perdas providenciadas pelo tempo, o qual age sem nos perguntar se aceitamos ou não as suas interferências. Eu assumo, então, o meu fracasso: não consegui escapar de tal inconveniente, fui atacada ferozmente por essa fera. Naquele momento, o tempo não soube a hora de interromper-se, e manteve-se  estranhamente sádico e incontrolável. Conheci, então, uma de suas facetas, que não me foi agradável.  Já em outras ocasiões o tempo contrariou-se, sendo amigável e ajudando-me (ou obrigando-me) a esquecer momentos indesejados.
   Entre os vestígios das lembranças deixados pelo tempo, está a única gota, incolor e persistente, que conseguiu encontrar o chão; Tocou o solo frio enquanto a folha de papel se tornava uma esfera amassada em minhas mãos. Admito, que por mais que eu tentasse sufocar aquelas pequenas gotículas gélidas era impossível. Elas eram ligeiras e contínuas, e venciam, uma a uma, minhas mãos que tentavam, sem sucesso, secá-las em meu rosto.

Mil beijos, Carol. 

quarta-feira, agosto 04, 2010

II. Que a sorte me guie até você.

  
   Assim que os pés da menina alcançaram o chão ela alinhou o corpo, enquanto limpava suas mãos em seu simples vestido branco. Ela o encontrou sentado mais a frente, lia um ótimo livro, pelo menos era isso que seus olhos fixos nas páginas amareladas pelo tempo transpareciam. Não se sabe se aquele era um livro de romance ou suspense. Por vezes, o nosso leitor franzia a testa, mordia os lábios, sorria. Parecia ter vontade de entrar no livro, mergulhar naquela velha história. A menina deixou alguns devaneios para trás, aproximou-se e se sentou ao lado do menino. Ao percebê-la seria comum que ele desejasse saber o seu nome, mas talvez ele fosse mesmo imprevisível. Em silêncio, ele fitou a menina nos olhos, não a conhecia, porém a “reconheceu”. Ela, por sua vez, recostou a cabeça em seu ombro e ambos, ainda em silêncio, retomaram a leitura.


 Eu escrevi esse post como a continuação do anterior e o termino com um "não-final". Proponho que você crie (imagine) o seu próprio final; Pessoas diferentes se encantam por motivos diferentes e por isso acredito que não devemos impor sempre o nosso ideal de final feliz; acho só assim a frase 'final feliz' ultrapassará qualquer clichê e será de verdade. Mil beijos, e espero que tenham gostado.                                                  

segunda-feira, julho 19, 2010

I. Que a sorte voe até você.


     A menina de cabelos cacheados, olhos brilhantes e andar ritmado passeava distraída. A princípio, a sua intenção era apenas apreciar o fraco calor do sol em sua pele, naquele dia fresco. Ela passou por uma grande árvore, distanciou-se três passos, sem se quer percebê-la. Porém, o seu subconsciente capitou algo e ela, repentinamente, paralisou-se. A menininha retrocedeu os mesmos três passos; Desta vez, ela olhava atentamente para a árvore e em seu semblante havia curiosidade e entusiasmo. O surpreendente foi descobrir que o seu foco era uma borboleta, que voava entorno da árvore. A garota se aproximou e decidiu segui-la. A borboleta voava pelo campo florido e a pequena corria atrás dela, como se estivesse perseguindo a verdadeira sorte. Por instantes, a garotinha imaginou estar voando. A borboleta voou para o outro lado de um muro velho e a menina, despreocupada, pulou a mesma barreira, com o objetivo de não perdê-la de vista. Assim que ela pôs seus pequenos pés no chão deixou que a borboleta se fosse, e apenas murmurou: - espero ter sorte.

Mil beijos, Carol C=

terça-feira, julho 13, 2010

Principezinho; 'só se vê bem com o coração'

   Vivi, portanto, só, sem alguém com quem pudesse realmente conversar, até o dia em que uma pane obrigou-me a fazer um pouso de emergência no deserto do Saara, há cerca de seis anos. Alguma coisa se quebrara no motor. E como não trazia comigo nem mecânico nem passageiros, preparei-me para executar sozinho aquele difícil conserto. Era, para mim, questão de vida ou morte. A água que eu tinha para beber só dava para oito dias. 
   Na primeira noite, adormeci sobre a areia, a milhas e milhas de qualquer terra habitada. Estava mais isolado que um náufrago num bote perdido no meio do oceano. Imaginem qual foi a minha surpresa quando, ao amanhecer, uma vozinha estranha me acordou. Dizia:
  - Por favor... desenha-me um carneiro!
  - O quê?
  - Desenha-me um carneiro...
    Levantei-me num salto, como se tivesse sido atingido por um raio.  Esfreguei bem os olhos. Olhei ao meu redor. E vi aquele homenzinho extraordinário que me observava seriamente. Eis o meu melhor retrato que, passado algum tempo, consegui fazer dele.  Meu desenho é, seguramente, muito menos sedutor que o modelo. Não tenho culpa. Fora desencorajado, aos seis anos, pelas pessoas grandes, da minha carreira de pintor, e só aprendera a desenhar jibóias abertas e fechadas.

             Eis o melhor retrato, que passado algum tempo, consegui fazer dele. 

 Olhava para essa aparição com olhos arregalados de espanto. Não esqueçam que eu me achava a milhas e milhas de qualquer terra habitada. Ora, o meu pequeno visitante não me parecia nem perdido, nem morto de fadiga, nem morto de fome, de sede ou de medo.Não tinha absolutamente a aparência de uma criança perdida no deserto, a milhas e milhas de qualquer região habitada.Quando consegui finalmente falar, perguntei-lhe:
  - Mas... que fazes aqui?
E ele repetiu então, lentamente, como se estivesse dizendo algo muito sério:
  - Por favor... desenha-me um carneiro...
  Quando o mistério é impressionante demais, a gente não ousa desobedecer. Por mais absurdo que aquilo me parecesse a milhas e milhas de todos os lugares habitados e em perigo de vida, tirei do bolso uma folha de papel e uma caneta. Mas lembrei, então, que eu havia estudado principalmente geografia, história, matemática e gramática e disse ao pequeno visitante (um pouco mal-humorado) que eu não sabia desenhar. Respondeu-me:
  - Não tem importância. Desenha-me um carneiro.
  Como jamais houvesse desenhado um carneiro, refiz para ele um dos dois único desenhos que sabia: o da jibóia fechada. E fiquei surpreso de ouvir o garoto replicar:
  - Não! Não! Eu não quero um elefante numa jibóia. A jibóia é perigosa e o elefante toma muito espaço. Tudo é pequeno onde eu moro. Preciso é de um carneiro. Desenha-me um carneiro.
    Então eu desenhei.
    Olhou atentamente e disse:
    - Não! esse já está muito doente. Desenha outro. 
    Desenhei de novo.
    Meu amigo sorriu paciente: - Bem vês que isto não é um carneiro. É um bode... Olha os chifres...
 Fiz mais uma vez o desenho.
     Mas ele foi recusado como os anteriores:
      - Esse aí é muito velho. Quero um carneiro que viva muito tempo. 
 Então, perdendo a paciência, e como tinha pressa em desmontar o motor, rabisquei o  desenho abaixo. E arrisquei:
              - Esta é a caixa.O carneiro que queres está aí dentro.
  E fiquei surpreso ao ver iluminar-se a face do meu pequeno juiz: 
  - Era assim mesmo que eu queria! Será preciso muito capim para esse carneiro?
  - Por quê?
  - Porque é muito pequeno onde eu moro...
  - Qualquer coisa chega. Eu te dei somente um carneirinho!
  Inclinou a cabeça sobre o desenho:
  - Não é tão pequeno assim... Olha! Ele adormeceu...
  E foi assim que conheci, um dia, o pequeno príncipe.
"Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos"

Capítulo II do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry (1900 - 1944)

  C=  Mil beijos, Carol.

sonherealidade*realizesonhos*

   
    Eu estava ofegante e já me via sem forças, quando inesperadamente o meu angustiante momento de insatisfação se foi. E, então, eu me senti levemente feliz por possuir o pouco fôlego que me restava. Decididamente eu resolvi aplicar o fôlego restante em um único grito, mas antes de executá-lo pensei: “Dessa vez eu não posso falhar”, repeti essa frase para mim mesma. Eu sabia que aquela seria a minha última chance: de acordar do doce sonho, ou fugir da realidade.
   Ultimamente, escolher entre o real e o abstrato tem sido uma tarefa difícil, eu pensei. Toda a correria e superficialidade do mundo real têm cansado os meus olhos e expectativas humanas. Já no mundo dos sonhos a palavra 'manipular' se faz soberana. A manipulação que acontece é tão recíproca que me deixa confusa: ora eu controlo meus próprios sonhos, ora eles me fazem de marionete. Eu já não sei quem governa o mundo dos 'meus' sonhos.
   Minutos após todos esses pensamentos, percebi que meu grito já havia terminado. Abri meus olhos, olhei para as estrelas no céu e, nesse momento, não me importei se era tudo um sonho ou não; o encanto da noite já me bastava.


  C=  Mil beijos, Carol.

quarta-feira, junho 23, 2010

Firme.

     

   O que eu sentia era uma força incontrolável, instintiva e revigorante, eu diria. E mesmo que houvesse mil pedras pelo caminho, eu fazia questão de percorrê-lo por completo. Permaneci então, durante muito tempo, seguindo em frente. Eu corria, porém sem pressa e tolerando os tropeções. Sempre me disseram: - “viver não é para quem para na primeira topada, e sim para quem topa qualquer parada”. Me propus então a “topar” todos os desafios que estivessem por vir. E se eu fiz isso, foi por mim mesma.
   Desviei de inúmeras pedras mas, por vezes, a desatenção me proporcionou armadilhas inimagináveis. Foi então que a fraqueza se apresentou a mim; e trouxe consigo uma amiga íntima: a desmotivação. E eu pude sentir a dor que antes me era oculta. Eu tentava correr, mas a inércia foi mais forte. Parar pode ter sido pior, ou mais doloroso; Pois quando o sangue esfria, a ferida começa a doer, e tonar-se inútil todas as tentativas de seguir em frente.
   Por segundos, pensei que as pedras, que tanto me derrubavam, não tinham serventia. Sentei-me no chão irregular, peguei cinco dessas pequenas e poderosas rivais, analisei-as com as mãos: tão sem cor, sem vida, sem calor, sem nada; No entanto, tão firmes. Entre elas havia um trevo de quatro folhas, que me lembrou como eu sou sortuda; e que mais firme e forte que todos os obstáculos (e pedras), é a minha sorte, fé e principalmente Deus, que me faz seguir em frente, mesmo quando parece ser impossível.
    
         "E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela."
                                                  Mateus 16,18 


C=  Mil beijos,  Carol.  

quinta-feira, junho 17, 2010

Ir.

 
    " - Em toda aquela tarde ensolarada, Viajando para o norte e para o leste, 
  Caroline sentiu absoluta confiança no Futuro.  E por que não sentiria? Afinal, se
 aos olhos do mundo o pior já lhes havia acontecido, então, com certeza, era o 
 pior que elas estavam deixando para trás. "
                                                                     
                              Kim Edwards, O Guardião de Memórias.