quarta-feira, janeiro 26, 2011

Sem dor, doravante.

"Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor

Prendia o choro e aguava o bom do amor"
   * Composição: Cazuza / Ezequiel Neves / Reinaldo Arias

  O vento, que ao soprar os meus ouvidos e acariciar o meu rosto cantou-me Cazuza*, lembrou-me de um antigo amigo, e assim, induziu-me a cumprimentar a saudade e a ir procurá-lo. Então, eu o fiz e fui de encontro aonde este se abrigava: no meu coração.
  
 Um átimo foi gasto enquanto eu golpeava – com a minha destra – leve e ansiosamente a frágil portinhola que fizera barreira entre o meu coração e eu. No entanto, a débil luz que emanava da singela fresta denunciou-me que a porta se encontrava entreaberta. Empurrei-a vagarosamente, enquanto, o meu incisivo olhar analisava avidamente o ambiente, pasmado com tamanha claridade e ordem.
  
 Eu acostumara-me, inconscientemente, a vir aqui e deparar-me com o pretume decorando as paredes compostas por músculos. No canto direito do cômodo pulsante, a penumbra era quem ocultara o meu querido amigo – um dos mais antigos sentimentos – a dor. Porém, atualmente, tudo é luz. E após vasculhar incansavelmente incontáveis pilhas de sentimentos e sensações eu não o encontrei. A frustração, então, assentou-se no canto obscuro de outrora – hoje, claríssimo – junto as inúmeras lembranças que contavam histórias, enquanto, outros bons sentimentos dançavam ao som de uma melodia qualquer. Permaneci, ainda, dentro do meu coração, boquiaberta com a completa ausência de dor, sofrimentos ou qualquer vestígio de amargura.
  
  Tornei, então, para o meu quarto – o de paredes feitas de concreto – e peguei deliberadamente a minha surrada mochila, companheira de tempos, e aconcheguei-a em minhas costas. Finalmente, retirei-me de casa tendo como destino um dos meus lugares prediletos. Eu corria desatinada pelo caminho familiar e amigável, embora a trilha escondida no término da rua, que se estendia diante da minha morada, estivesse encoberta a esta época do ano. O outono chegara efusivo, e as folhas secas caídas das árvores o anunciavam enquanto abraçavam o solo. Um belo tapete é aquele – eu pensei automaticamente ao cessar a corrida e pôr o primeiro pé na pontezinha de cimento sobre o delicado rio, o amado por mim.

  Apesar do rebuliço que se expandia dentro de mim, mantive-me aparentemente calma, encenando pertinaz para uma platéia inexistente, a qual poderia julgar-me louca a qualquer momento. No entanto, o entrar e sair do ar nos meus pulmões fazia-se rápido e denso em demasia, desmascarando-me plenamente. Firmei, então, as minhas mãos finas e cálidas sobre a proteção desbotada que me separava cruelmente do ribeiro. Percebi que nem mesmo a dor física fazia-se presente conforme as farpas amigavam-se dos meus dedos.

  Esse é o local da minha infância e início de juventude, eu sempre viera aqui nos momentos de raiva, infelicidade ou desânimo. Nesses dias, o meu olhar fixo para o riacho me proporcionava extremo alívio; Fitava-o com severidade e, por vezes, fingia um possível pulo suicida. Se o afogamento não furtasse a minha alma, certamente a queda desengonçada o faria. No entanto, antes que qualquer travessura ou insanidade fosse executada, os sentimentos ruins que me inundavam se sacrificavam por mim. Pulavam um a um no singelo rio sem pestanejar ou me dizer adeus e, assim, eu os observava submergir na água pouco agitada. Porém, o único sentimento cinza que eu obrigara a ficar comigo sempre fora a dor, preservando assim a vida das minhas futuras lágrimas.


  Hoje, aqui estou completamente aturdida. O meu olhar percorre ligeiro cada centímetro do córrego em busca da dor; e eu nada encontro. Horas se passam e eu permaneço estática, enquanto as sombras das árvores se estendem sobre o rio. Indago-me impaciente se a dor trouxera a si própria para cá através do mesmo caminho que eu percorrera. A resposta me vem do fundo da água possivelmente gélida: uma mão informe e um adeus sorridente. Curvei-me, então, para apanhar uma flor amarela que dormia junto ao meu pé. Aquiesci, por fim, acenando com a mão para minha antiga dor e lançando-lhe a belezinha perfumada após tocá-la com os lábios. Desse dia em diante, a dor viveu a sua própria vida e, longe de mim, me permitiu fazer o mesmo quando pôs um fim em nosso elo. 

Texto escrito dia  23 de Janeiro, 2O11.
Pauta para o projeto Bloínques, 53ª Edição Visual.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Sem sóis, a sós.

  
   O gigante, então, desfalece em si próprio e toda a sua agonia ecoa nítida e retumbante, intensificando-se a cada novo tormento e principiantes lamúrias. O céu soluça com o semblante desbotado a dor que acumulou silencioso. O sorriso amarelo e corriqueiro, quente feito o fogo, fora encoberto pelo anuviamento cinza-claro, nada fulgurante quando posto em paralelo com os relâmpagos.  
   O céu grita choroso toda a sua angústia como criança desamparada, recentemente órfã. Não há braços para envolvê-lo enquanto a sua melancolia é exposta – exposição de tristezas sem espectadores, ou viva alma, para lançá-la olhares de admiração.
   Outrora, em dias em que o sol beijava o imenso azul – nos quais as folhas farfalhavam calmas ao vento – a brisa era melodia e o céu um grande espetáculo, muitos lhe concediam amizade, enquanto, as suas faces ostentavam sorrisos iluminados. Hoje, todo ser humano, de sentimentos humanos ou não, evadiu-se da sua presença, indo ao encontro de seu aconchegante e quente lar. Ao passo que o céu urge e arqueja entre trovões.
  Os rostos, então, evaporam-se como água ao atingir cem graus Celsius. Induzindo-me a pressupor que até mesmo a felicidade e a contemplação tenham o seu ponto de ebulição. E, assim, vejo a ironia crescente e incisiva: Enquanto o calor abandona-o e a chuva gélida, quase feroz, derrama-se abraçando a face terrestre – confundindo e fundindo-se as lágrimas do céu – é nesse momento, de não-calor, que os sorrisos abandonam os lábios e transformam-se em vapor.
  Indago-me aturdida e confusa se fora a gratidão ou o amor que, audacioso, ousara a me conduzir deliberadamente para clímax da tempestade. Ainda que as minhas palavras de consolo caiam por terra, rendendo-se de joelhos ao tentar transpassar a atmosfera, manter-me-ei aqui. Embora, o vento sopre risonhamente contra, como um parceiro que insiste em bailar no amplo salão movendo-se em direção contrária. Ainda assim, boquiaberta, eu observo com deleite o seu choro lavar a minha face. É somente fase, e rogo para que não a temam, mas sim compreendam e respeitem a sua dor  ou desamor.

  Comecei esse texto anteontem quando, antes do dia dizer adeus, começou uma chuva muito forte aqui, fazendo com que a rede elétrica parasse de funcionar - justo na hora em que vazia um selo. Enfim, sem energia, e após admirar da varanda de casa a chuva mais bela que já vi, corri feito uma louca até o meu quarto, agradecendo ainda não ser noite, peguei um folha qualquer e uma caneta e comecei a escrever, enquanto o barulho dos trovões me dava pequenos sustos. Enfim, espero que gostem e agradeço aos comentários que sempre me alegram muito. Ah, viva a eletricidade ^^  Grande beijo!                    

Delicadeza.

 Olá,
 Ganhei esse selo do Italo e da Maiara, o que me deixou surpresa e muitíssimo contente, é reconfortante.


 
Então vamos às regras:

 - Responder a um Quiz.
 - Indicar a 15 blogs.

O quiz:

1. Nome: Caroline Araújo O.

2. Uma música:   Bem, são tantas que torna-se uma tortura citar só uma... E entre os meus antigos e primeiros amores, Cazuza, Legião Urbana, Djavan, The Beatles, etc. Eu escolho uma de uma banda paulista que tanto gosto, Rosa de Saron - Monte inverno (acústico, de preferência ^^)

3. Humor: Um tanto quanto instável, confesso. Então, sem determinações.

4. Uma cor: Branco. Na verdade eu gosto de todas as cores, com exceção ao marrom. 

5. Uma estação: Outono. Adoro o céu azul, sem nuvens, com o clima fresco/frio.

6. Como prefere viajar: De carro, com a janela aberta e o vento bagunçando os meus cachos.

7. Um seriado: Dr. House.

8. Frase ou palavra mais dita por você: Depende do ponto de vista.

9. O que você achou do selo: Uma graça, e fico grata pela indicação ao mesmo.

Indico:


segunda-feira, janeiro 17, 2011

Até, eternidade! Até a eternidade!

Quadro infinito cuja imagem varia
O esplêndido azul, de celestial anil,
Decorar-te-á e encantar-me-á perpetuamente.

Embora o perpétuo só se adéque a dor;
Enquanto o eterno se enlace ao amor,
Serei prisioneira perpétua em te amar.

Quando o horizonte casa o céu e o mar, a terra e o ar,
O amor vem de pressa, é o primeiro a se assentar; 
Não só para assistir, e sim para sentir
O que vê e no que crê,
Na longínqua eternidade que há.
Há no viver e após o jazer.

O mito se renova, então,
A cada pôr-do-sol,
Aos novos encantos lunares.
Enquanto, a busca faz-se incessante rumo ao para sempre.

Admiro-a ao brilhar,
Tão sólida e tangível quanto eu - corpo.
Tão durável e volátil quanto eu - alma.
Ao amar, somente a minha face a eternidade acaricia?

Dê-me a sua mão e ouse abandonar chão.
Permita-se sorrir e junte-se as estrelas.
No manto estrelado e aqui, eternidade há.

Pauta para o projeto Bloínques, 22ª edição poema.

sábado, janeiro 15, 2011

A-dor-me-cer.

 
   O feitiço fora lançado sorrateiramente aos sete ventos, os quais sussurram uma melodia ininteligível ao atravessar a porta e transpassar minha vida. Cercara-me e envolvera-me coercitivamente, obrigando-me a acolhê-lo em meus braços frágeis. Enquanto, desastrosamente, a magia mostrou-me a beleza que dormia serena diante da minha presença. No entanto, era eu quem persistira em cerrar fortemente a janela da alma. Eu pude sentir os dedos cálidos e delgados me alcançarem, ao mesmo tempo em que – enlaçando-se rudemente aos meus cachos – arrastaram-me aos solavancos do acalanto do meu sono, e os meus olhos, despedindo-se da escuridão, negaram simpatia ao dia claro. Dia luz.

   O piano, intocavelmente belo e sedutor, transparecera não recordar-se de som ou toque algum. Os dedos que ali tocavam jazem trêmulos e desiludidos nas minhas mãos. As melodias perdidas morreram jovens e me abandonaram sem direito a canções fúnebres. No entanto, a superfície lisa e negra ainda me encanta e hipnotiza a cada novo reflexo reproduzido em sua quietude. Despertara junto a mim, todos os temores que outrora eu domara. Amanheceram lúcidas, junto ao Sol, as minhas tristezas. Convencera-me, a minha própria dor a desistir de domesticá-la?! Esta é vivaz e me induz a sentir saudade do sono que antes entorpecera a mim e a ela – pura morfina. Permaneço, então, acordada... E sem adormecer, eu me encontro a mercê da dor.


 Esse texto pulsou em mim durante uns três dias, então, ai esta ele – vitoriosamente insistente. Sobre outro assunto, eu estou bastante chateada com tudo o que está acontecendo aqui no Rio (Região Serrana). Eu moro na capital, Rio de Janeiro, e não fui afetada em nada, isso é verdade, mas sinto-me muito mal e medíocre por tantas vezes reclamar por coisas mínimas. Saber que nada do que eu faça reverterá toda a dor sempre me matou, e hoje me magoa ainda mais. Pretendo fazer um post sobre tudo isso depois. 
Grande beijo!                                                                                                                                 
Fonte da imagem: deviantart                                                                                                                                                                                                                            

segunda-feira, janeiro 10, 2011

(In)imaginável.

 
     Fictício amigo, 
   As minhas palavras, tão dóceis quanto o seu hipotético sorriso, se derramam suavemente diante de seu possível olhar para lhe acariciar os olhos, as quais sonham em envolvê-lo em um laço firme de sinceridade e arrastá-lo abruptamente para a companhia da sua velha amiga, hoje solitária.
  Eu nunca lhe ofereci um nome - e penso que igualmente não me apresentei - nem mesmo permiti que as palavras que se formavam em você saltassem de seus lábios e dançassem até os meus ouvidos. Acho que você tinha lábios. 
  Hoje, eu te vejo tão invisível como eu sempre determinara, mas devo admitir que ainda ouço o tamborilar de seus batimentos cardíacos, embora, orgulhosamente, eu não tenha confessado isso antes. 
  Desculpe-me, mas o meu olhar e carinho nem por um átimo lhe pertenceram, imitando a minha amizade. Porém, lembro-me com perfeição, do rumor suave que os seus pés cantavam ao tocar o chão; E da sua respiração que me acalentara em diversos momentos, espantando sem alarde os monstros que eu mesma criara no pretume da noite, em minha própria e interna escuridão. 
  Pena que eu gastara furtivamente toda a minha criatividade inventando fantasmas, dando-os vida e colorindo-os, e nunca valorizei a sua presença, nunca o abracei ou redecorei. Ou pior, talvez, eu a tenha desprezado. Criança cega, com um coração também cego - O meu perfil se enquadra sem questionamentos em tal definição.
   Talvez, eu ainda não consiga me convencer plenamente de que você existiu - ou vive. Pois a minha imaginação sempre fora fraca nesse gênero. Porém, ainda assim, peço-te perdão pela minha ausência nesses cinco mil oitocentos e quarenta dias, nos quais você se dedicou somente a mim.  
   Sugiro que não se assuste, pois ironicamente hoje sou eu a invisível. Espero, com esperança, que você receba esta carta e me permita ocupar um terço da sua imaginação, como eu nunca o permiti.
   Com carinho, dúvidas e dívidas.





Pauta para o projeto BloínquesEdição Cartas. 
Texto escrito dia O6 de Janeiro de 2O11.

Carinho.

 Olá,
  Este é o meu primeiro post do ano e penso que é bom começar o ano com um carinho. Há um tempinho recebi alguns selos mas ainda não os tinha postado, pois aqui estou para fazê-lo e indicá-los a outros blogs - como um presente de Natal super atrasado.


 Eu gosto muitíssimo desse primeiro selo, o recebi da Juusep do blog Só Podia Né? 
A regra é: passar para os blogs que você acha que merece, no mínimo 5 indicações, pois então, indico-o a todos os blogs que eu acompanho. Fiquem a vontade para pegá-lo e repassá-lo.

Este recebi igualmente da Juusep, o qual não possuiu regras e se as possuiu eu as desconheço, assim como os selos que o seguem - os quais eu recebi da Jey Bi, do blog My Immortal.













 A maioria dos selos eu já vi em muitos blog, então, indico todos esses aos blogs que não os tenham recebido ainda. Agradeço muitíssimo aos blogs que me indicaram e peço que fiquem a vontade para repassá-los. Grande beijo.