segunda-feira, novembro 29, 2010

Porque eu sou agridoce, e você é míope.

    A porta permanece destrancada como sempre esteve. O vento, que ao entrar pela janela faz dançar a cortina branca de bordado, traz consigo o som da liberdade que grita pelo meu nome. É um convite inestimável e quase irrecusável, o de se aventurar nessa manhã de céu anil e cheiro doce. Mas, eu sou agridoce e nada do que está do lado de fora me atrai ou encanta. Eu preciso ficar aqui quietinha, dentro de você, analisando de perto todas as formas que compõe o seu trejeito. O seu coração é a minha biblioteca predileta, e eu opto por me manter afogada em pilhas de papeis, documentos antigos e velhos livros que eu encontrara casualmente. Quem sabe essas páginas, amareladas pelo tempo, não me contam mais sobre você?

    Eu tomei posse desse quartinho, de paredes azuis, que eu descobrira dentro de ti. Aqui, eu possuo o que me fascina: Boas músicas, lindos desenhos, ótimas histórias e o seu incomensurável bom humor... Eu já não ouço o reclamar da liberdade, a qual insistira em ter a minha companhia. Certamente, ela se convencera de que, vivendo assim, eu e você somos mais livres e felizes. Pressuponho que o mundo não me esperará eternamente, no entanto, isso não me é importante. Eu quero o que eu não vejo, só sinto. Por isso admiro tanto a maneira míope como você observa tudo.Você me traz felicidade, eu só lhe peço para não deixar de enxergar os meus inúmeros defeitos. Porque eu sou agridoce, e você é míope.     
 Espero que o fim não anule o início.


  Desculpem-me por não estar postando com tanta frequência. Quanto ao texto, esse é bastante paradoxal para mim... Ao mesmo tempo em que é leve, e me traz boas lembranças, também me soa um tanto tristonho. Espero que tenham gostado. 
  Mil beijos.
(fonte da imagem: abril.com)

  P.s.: Hoje (28.10.10) eu fui indicada pelo Fê Faverani a 2 selos que inclui o "Desafio dos 7". Agradeço pela indicação e carinho, aqui esta o desafio!

segunda-feira, novembro 15, 2010

Eu sou: Vitória ou Régia?

  Os meus dias têm sido incomuns e assustadores. Semana passada, por exemplo, eu encontrei uma estranha em meu quarto, a qual me atropelara com centenas de perguntas, com questionamentos dignos de um investigador criminal. Eu juro não ter entregado a nenhum desconhecido a chave de minha casa e as dúvidas de minha vida. Eu sempre me mantive severamente reservada e impenetrável, assim como as portas e janelas de onde eu moro. Após o susto, eu tentei expulsá-la com pressa, mas a perdi num átimo ao pestanejar incrédula pela décima vez. Odiei a surrealidade de como a minha visitante viera e se fora instantaneamente, sem ao menos despedir-se. Eu me surpreendi seriamente ao notar que agora havia apenas eu e o meu reflexo refletido pelo espelho –Talvez, seja melhor assim– eu pensei sozinha, enquanto me indagava se eu estava realmente lúcida. Porém, o que me arranca o sono e furta a minha tranquilidade é saber que, novamente, eu não me reconheci. Pois, era eu quem houvera me visitado.

   Desse dia em diante, o passado me visita e me atormenta com um único flash back. Desfilam frente aos meus olhos as recordações de uma noite de acampamento... Vejo-me, nessa lembrança, afastando-me dos meus amigos, seguindo impetuosa e distraidamente a grande esfera branca que ilumina o céu, a qual se encontrava cercada de pontinhos cintilantes. Adoraria que, ao tocá-la, ela clareasse igualmente a minha vida. Segui-a até encontrar um vasto lago, tão sereno e sedutor, o qual refletia a lua e me atraia, fazendo-me esquecer da água possivelmente fria, da profundidade e do perigo de esbarrar com outras lendas... Quando eu olhei para mim, era tarde: A escuridão da noite fundiu-se a do lago, a água abraçava a minha cintura e eu me sentia estranhamente feliz por me aproximar da lua que enfeitava o lago. E após isso, eu conseguia sentir o frescor e a pureza da água em meus lábios, já que essa me invadia a boca, o nariz e ouvidos. O lago engoliu-me carinhosamente naquela noite. 

   E hoje, ao término desse flash back, que me ocorre diariamente, eu entendo porque eu não me reconheço de antemão ao encontrar-me comigo mesma. Eu compreendo porque eu não consigo dizer quem sou eu. Esses fatos se dão por há tempos eu ter deixado uma parte de mim se perder, se afogar. Permaneço, então, como um cubo mágico incompleto.

A Lary me propôs a muito tempo escrevermos (eu, ela e Clarinha) textos sobre crise existencial. Desculpem-me pela demora meninas!

 Mesmo parecendo não ser, esse é um texto sobre crise existencial. Eu esquivei-me do padrão dos textos sobre esse assunto, eu sei, e a princípio essa nem era a minha intenção, mas as palavras assim o desenrolaram. Espero que o texto não tenha ficado muito confuso e que a mensagem, mesmo estando implícita, tenha sido entendida. Ah, peço desculpas pelo tempo sem postar, é que eu estava sem poder usar o computador e não tenho escrito com tanta frequência. Mil beijos.