sexta-feira, julho 22, 2011

Patrimônio.


  Na cabeça idosa de mente brilhante os cabelos ralos lutam contra o tempo, perseverantes em dividir espaço com a lucidez e sabedoria que cintilam o mesmo branco dos fios. A vida caminha casualmente para o fim desde o primeiro aplaudir dos cílios, porém quando o amor inicia o seu nascer, ele nunca se põe no anoitecer que é a morte.

  A senhora que todas as tardes enfeita o mesmo jardim com a sua presença, e exala a mesma alegria da sua juventude, é a minha amada esposa.  O verde do seu olhar e a vivacidade do seu sorriso esqueceram-se de envelhecer, embora as rugas façam questão de sorrir a velhice junto aos seus lábios rosados.

  Respiro cansado e, da antiga cadeira de balanço, colocada estrategicamente no local perfeito da varanda, permito-me admirar as flores que são regadas e quem as molha com zelo. E outro marejar umedece tímido não as plantas, mas o meu rosto – decorado pelo tempo com as mesmas marcas, vestígios da idade mental e física.

  As mãos desse pobre velho que registra cada momento ao fitá-los, as minhas mãos, tremem lânguidas enquanto equilibram nos dedos a caneta de tinta negra e o peso de quase noventa anos vividos. Na folha, que a canhestra segura, encontra-se o início do meu testamento. Seria esplêndido presentear quem viverá depois de mim com todas as minhas boas lembranças, aprendizados difíceis e lições que a vida me ensinara. Contudo, não é permitido nem possível guardar no mais seguro dos cofres toda a experiência adquirida. Somente o túmulo terá tal privilégio. Porém, o mesmo peito que guarda o ar nos pulmões com dificuldade é capaz de blindar-se contra o esquecimento. É capaz de fazê-la me amar após o fim. É o cofre onde os sentimentos se refugiam, quando a memória deteriorada os trai.

  Possivelmente, a herança da vida é morte e da falta a saudade. Mas, o que realmente me conforta é ter a convicção de que a herança do amor é a eternidade. E se o eterno insiste em findar primeiro a minha vida, contento-me por ser nesta tarde agradável enquanto o sol também se põe – a morrer. A única diferença é que amanhã ele fulgurará neste mesmo manto azul anil.

 Caminho calmo entre as flores até a minha querida, digo entre um apertado abraço:  “Além de todos os bens materiais, a minha herança para você é o amor capaz de fazê-la tranquila. Serena até mesmo sem a minha presença”. Ela sorri amarelo sem entender e me observa voltar para a mesma cadeira, após soltá-la do amplexo. E entre um leve balanço e outro, eu durmo para a eternidade – embora ela ainda não saiba.

Pauta para edição musical, Projeto Bloínques.

quinta-feira, julho 07, 2011

Sem.

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Após o sussurrado adeus,
Estarei sem carinhos seus;            
Congelarei em vão
Ao imergir na dor do não.

Como um rio sem nascente;
Tornar-me-ei sol sem meu poente.
Serei céu sem o alaranjar;
Desaguarei triste sem um mar.

Lamentarei o fim,
Mas guardar-te-ei em mim.

Aguardarei quem não virá,
Na espera que não findará;
Viverei os tons de inverno,
Vislumbrando um frio eterno.

Com os olhos a embaçar,
Cálidas lágrimas a derramar;
Ao ver partir o doce amor,
Eu serei morta e seca flor.

Guardar-te-ei em mim,
Mas lamentarei o fim.   
Pauta para o projeto bloínques - edição poemas.

Olá pessoal! Parece inacreditável, mas sim, eu estou de volta. Ao menos é o que parece. Estava super atarefada no colégio, estava saindo de casa às 6:00 horas (na verdade ainda estou) e voltando às 19:00 horas todos os dias, e o cansaço estava me matando. Torno a pedir desculpas por tanto tempo sem apreciá-los devidamente em seus blogs, embora os tenha acompanhado de longe. Mas, vida de eletrônica não é fácil. :/
No entanto, agradeço imensamente quem, ainda assim, tem paciência comigo e não me abandona. Grande abraço a todos! Amo cada palavra que vocês escrevem, e ler os vossos blogs é um presente. Prometo que tentarei diminuir os intervalos entre as postagens. Fiquem com Deus!