Passara-me e repassara-me. Ultrapassara-me. Talvez a culpa seja minha, afinal, eu me arriscara deliberadamente em parar no tempo. Baixara guarda e dispensara a honrosa e fiel cavalaria. Desfizera-me da armadura e com ela fora o meu ego narcisista; melhor assim, eu concluíra que aprender autodefesa também é importante. E o meu melhor ataque contra a pressa do tempo não fora a defesa, como o clichê sugerira, mas sim agregar ao meu jogo a pedra do adversário – eu imaginara que o xadrez da vida ficaria mais interessante dessa forma, e ficou.
Eu gracejara com os ponteiros, retardara os segundos e derreara os lábios ao notar que o tempo ainda assim insistira em desdenhar-me – ele não quer comprar, nunca quis – e fizera questão de lançar na minha vasta estrada mais uma de suas volumosas pedras. Mas ao contrário do habitual, eu não almejara o caminho; era justamente o pedregulho que eu desejara.
Uma peça a mais no tabuleiro o tempo me dera, e deu-me essa pedra de ingênuo que foi. Arrastei-a até um local de sombra, recostei-me nela e tomei meu livro. Pus-me a rir baixinho enquanto lia, achei graça desse tempo ligeiro que me passa, repassa e ultrapassa, mas que nunca vive. Eu sim, eu vivo: caminho, mas descanso quando necessário, ou apenas diminuo o ritmo da caminhada – sem me culpar – já ele não. É escravo de uma ampulheta qualquer, ou sempre se põe a tiquetaquear sem destino. Some no vento, é um eterno intangível. Coitado do tempo, pensa que vive e jura ser juíz.
Uma peça a mais no tabuleiro o tempo me dera, e deu-me essa pedra de ingênuo que foi. Arrastei-a até um local de sombra, recostei-me nela e tomei meu livro. Pus-me a rir baixinho enquanto lia, achei graça desse tempo ligeiro que me passa, repassa e ultrapassa, mas que nunca vive. Eu sim, eu vivo: caminho, mas descanso quando necessário, ou apenas diminuo o ritmo da caminhada – sem me culpar – já ele não. É escravo de uma ampulheta qualquer, ou sempre se põe a tiquetaquear sem destino. Some no vento, é um eterno intangível. Coitado do tempo, pensa que vive e jura ser juíz.
Coitado do tempo. Eu sim, eu vivo; com ou sem pedra no caminho.
Bem, espero que vocês tenham gostado do texto. Foi uma breve homenagem ao Carlos Drummond e sua famosa "pedra no caminho" e, além disso, uma pequena releitura com um ponto de vista diferente sobre o tema 'as pedras que surgem em nossa vida'. Eu quis a pedra, recusei o caminho, risos. Afinal, no xadrez, é vantagem ter mais pedras (peças) do que o adversário. Bom fim de semana para todos! Fiquem com Deus.
2 comentários:
Bem bacana. Gostei do jogo de palavras "passa, repassa e ultrapassa".
Que linda reflexão, Caroline, e que belas palavras você encontrou para nos mostrar essa reflexão. Beijo!
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