segunda-feira, março 21, 2011

A(r)mar.


   Na arena, olhos febris enfeitam a face de cada espectador veemente, enquanto, a ansiedade materializa-se no suor cintilante que desfila sobre as suas têmporas. O gladiador veste-se de glória e dirige-se impávido ao seu próximo combate; Tornar-se-ia lendário após tamanha façanha. 

  Os gritos e murmúrios abafam uns aos outros, sobrepõem-se altivos, e o bafo quente da multidão adere-se à atmosfera. Os trajes simplórios revelam o quanto a força física é almejada com vigor, ao passo que a preocupação com a estética faz-se obsoleta.
  
  As exclamações duplicam-se e o rubro tinge os olhos do povo alvoroçado, o qual deseja que tal sangue despeça-se de seus olhares e transformem-se no reflexo fiel e luzente da arena em vermelho, decorada pela sádica morte de um dos guerreiros.

  O primeiro pé do gladiador estende-se audaz sobre o chão amarelado de terra batida; A armadura inexorável de tal combatente, intrépido, reluz a sua fúria. No entanto, os seus dedos prendem-se rudemente a uma espada – tão bela, eu diria, se essa não contribuísse para a execução de tantas mortandades. Porém, o escudo na canhestra delata que mesmo o mais colosso dos gladiadores, sedento por vitória, rende-se aos caprichos da fragilidade humana e amiga-se de uma proteção – ainda que metálica.

  O combatente voraz, tão humano, já vencera a esperança e a felicidade, portando-se das piores artimanhas; Restou-lhe como vítima o amor, combatente forçado que hoje enfrentará. O oponente do lutador, portanto, o amedrontado, é atirado por outros brutos na arena para a batalha final – primeira e última. 

  O público se cala e logo em seguida vai ao delírio; O espetáculo iniciar-se-á. 

 O gladiador avança resoluto, mas todos os seus golpes, de traços tão firmes, pintam-se errôneos diante da tela em branco e do artista. O outro se põe de pé valente, olha-o nos olhos e sopra poucas palavras: Não te basta armar, mas sim amar; E retira-se soberano a passos lentos. E o que até outrora era intrépido, impávido, colossal, jaze parvo com os lábios a beijar o solo seco – O público vê-se tão embasbacado e lânguido quanto o próprio derrotado.

  O gladiador tem as suas pesadas armas, porém o poeta tem a mais poderosa: A palavra; E este senhor de mãos calejadas de tanto escrever é o amor, o mesmo amor que se permite falar de si próprio através de dedos tão humanos, inofensivos.

  Na verdade, eu tenho essa ideia de equiparar o ser humano a um gladiador que se deixa domar pelos sentimentos - todos tão abstratos - há tempos. Porém, as palavras tiraram-me da trilha que eu planejara e fizeram-se minhas guias. Espero que ainda assim vocês tenham gostado. Peço-lhes desculpas quanto a minha ausência em vossos blogs; É que eu tenho estudado demais, dormido de menos e entrado pouco na internet. Mas saiba que não os abandonarei. Agradeço ao carinho e sinceridade nos comentários. Grande beijo a todos.  

terça-feira, março 15, 2011

Sem fel.


É dor latente e persistente, a que em mim se abrigou;
Resplandece o seu fulgor no peito de quem a abandonou.
Desfila presunçosa o seu peso - o imensurável.
Destila gota a gota do veneno - o indesejável.

O arquejar faz doer os pulmões e castiga o ar;
Induz-me a expirar, inspirar e a ti o singelo perdão doar.
Perdoar-te e perdoar-me irei, então, mas não em vão.

O achoalho frígido e liso me sorri silencioso,
Os joelhos latejam ansiosos em resposta
E o beijo compõe-se intenso entre a pele e o piso.
O cálido experimenta o frio, aos risos;
Assim como eu opto por derreter todo o meu gelo.

Os punhos despedem-se do bolso
E a luz se expõe por entre os dedos.
As impressões digitais disputam espaço com a flor;
Visto-me, pois, de amor e rasgo o véu do rancor.

Os pés enfeitam a terra, mas o pensamento é do céu;
Limpo os meus lábios e ao longe lanço o fel.
A maciez da bela rosa repousa, enfim, sobre as suas mãos,
Enquanto, um suspiro leve inflama o meu coração;
A voz tão angelical quanto o pedido sussurra por fim:
Perdão concedido? Sempre e sim. 

Projeto blq,30ª Edição poemas.

O abandono.

 

  As primeiras letras são desenhadas em caligrafia perfeita no papel branco, mas são tão ligeiras. As formosuras escorregam ardilosas pelas mãos cansadas, as que as criam. Derramando-se no chão, elas escapam satisfeitas pela porta entreaberta de madeira escura. O poeta, no entanto, deixa-se enfeitar o rosto de surpresa; Boquiaberto, o queixo caído denuncia sua angústia. As mãos, sempre vorazes, jazem trêmulas de agonia  lamentam o abandono. A lágrima pende em seu rosto envelhecido e desliza até a página, marcando-a. A marca úmida cintila solitária, já que o negro da escrita faz-se escasso. As palavras fugiram, pularam as janelas, adentram-se na lareira, não sussurram um adeus; Desprezaram o poeta e furtaram-lhe a vida, a alma. Agora, o silêncio da não-escrita soa tímido o seu pesar.


 Perdoem-me, não é plenamente o que eu queria; Mas por vezes parece mesmo que as palavras esquivam-se do meu abraço, no entanto, espero que essas singelas palavras o tenham agradado. Ontem, entre as ideias que tive, duas tomaram forma e envolveram-me por inteira. A primeira é simples: Eu adoro versinhos e acho que esses combinam magicamente com o dia de domingo; Adoraria que vocês escrevessem versinhos aos domingos e me enviassem. Não, não é um projeto e não haverá avaliação ou premiação; No entanto, eu adoraria mais essa troca mútua das palavras que deixaram-se ser escritas. Afinal, eu alimento-me (também) de palavras e rimas; Quem quiser, sinta-se mais que convidado. A segunda, outro dia eu conto. ^^ Grande beijo.                                 

quinta-feira, março 10, 2011

Voltar-me-ei.

Jurujuba - Niteroi, RJ. Praia de Adão e Eva; Duas praias gêmeas.
Águas calmas e de coloração esverdeada, com areias claras e finas,
localizam-se bem próximo à entrada da Baía de Guanabara
 e dão acesso à Fortaleza de Santa Cruz.
 

(...) Quando o horizonte casa o céu e o mar, a terra e o ar,
O amor vem de pressa, é o primeiro a se assentar,
Não só para assistir, e sim para sentir (...)


  Bem, eis-me aqui. Eu passei todo o carnaval longe da internet, tendo-a distante até mesmo dos meus pensamentos devido aos cinco dias de acampamento na praia - a da foto; A qual eu visito antes mesmo de nascer e a minha relação com tal lugar é inexplicável. Foi extremamente maravilhoso possuir tempo e espaço, um lindo e esplêndido espaço, para organizar, redecorar, criar e até mesmo desorganizar alguns pensamentos e ideias minhas. Foi ótimo ter como trilha sonora o murmúrio das ondas, sentar na areia e saber que todo aquele espetáculo estaria me aguardando no dia seguinte, e no outro. O cheiro do mar permanece impregnado em mim apesar do perfume suave do meu sabonete, e isso me conforta. Enfim, senti-me na obrigação de ao menos compartilhar um fio da plenitude e magnificência que foi essa semana. Devo confessar, no entanto, que não escrevi nada além de algumas frases singelas e outras em francês que rabisquei na areia fofíssima. Eu tentei ao máximo viver a felicidade, não escrevê-la de imediato, para quem sabe um dia transliterá-la. Assim como, devo admitir que não senti saudades do meu blog em si, mas sim  uma falta imensa de vossos blogs e textos. Peço-vos desculpas por esse tempo de ausência, eu senti muita saudade de vossos poemas, contos e prosas tão magníficas; Mas, saibam que eu comentarei e estarei atenta as próximas atualizações. Espero de coração que esse período de descanso e/ou diversão possa ter sido tão maravilhoso e perfeito para vocês como foi para mim. Um grande beijo a todos que não me abandonam, o carinho de vocês é essencial e extremamente recíproco. Fiquem com Deus, queridos.

* Caso vocês queiram ver as outras fotos da viagem, avisem no comentário que eu posto aqui ou no facebook.