Na arena, olhos febris enfeitam a face de cada espectador veemente, enquanto, a ansiedade materializa-se no suor cintilante que desfila sobre as suas têmporas. O gladiador veste-se de glória e dirige-se impávido ao seu próximo combate; Tornar-se-ia lendário após tamanha façanha.
Os gritos e murmúrios abafam uns aos outros, sobrepõem-se altivos, e o bafo quente da multidão adere-se à atmosfera. Os trajes simplórios revelam o quanto a força física é almejada com vigor, ao passo que a preocupação com a estética faz-se obsoleta.
As exclamações duplicam-se e o rubro tinge os olhos do povo alvoroçado, o qual deseja que tal sangue despeça-se de seus olhares e transformem-se no reflexo fiel e luzente da arena em vermelho, decorada pela sádica morte de um dos guerreiros.
O primeiro pé do gladiador estende-se audaz sobre o chão amarelado de terra batida; A armadura inexorável de tal combatente, intrépido, reluz a sua fúria. No entanto, os seus dedos prendem-se rudemente a uma espada – tão bela, eu diria, se essa não contribuísse para a execução de tantas mortandades. Porém, o escudo na canhestra delata que mesmo o mais colosso dos gladiadores, sedento por vitória, rende-se aos caprichos da fragilidade humana e amiga-se de uma proteção – ainda que metálica.
O combatente voraz, tão humano, já vencera a esperança e a felicidade, portando-se das piores artimanhas; Restou-lhe como vítima o amor, combatente forçado que hoje enfrentará. O oponente do lutador, portanto, o amedrontado, é atirado por outros brutos na arena para a batalha final – primeira e última.
O público se cala e logo em seguida vai ao delírio; O espetáculo iniciar-se-á.
O gladiador avança resoluto, mas todos os seus golpes, de traços tão firmes, pintam-se errôneos diante da tela em branco e do artista. O outro se põe de pé valente, olha-o nos olhos e sopra poucas palavras: Não te basta armar, mas sim amar; E retira-se soberano a passos lentos. E o que até outrora era intrépido, impávido, colossal, jaze parvo com os lábios a beijar o solo seco – O público vê-se tão embasbacado e lânguido quanto o próprio derrotado.
O gladiador tem as suas pesadas armas, porém o poeta tem a mais poderosa: A palavra; E este senhor de mãos calejadas de tanto escrever é o amor, o mesmo amor que se permite falar de si próprio através de dedos tão humanos, inofensivos.
Na verdade, eu tenho essa ideia de equiparar o ser humano a um gladiador que se deixa domar pelos sentimentos - todos tão abstratos - há tempos. Porém, as palavras tiraram-me da trilha que eu planejara e fizeram-se minhas guias. Espero que ainda assim vocês tenham gostado. Peço-lhes desculpas quanto a minha ausência em vossos blogs; É que eu tenho estudado demais, dormido de menos e entrado pouco na internet. Mas saiba que não os abandonarei. Agradeço ao carinho e sinceridade nos comentários. Grande beijo a todos.