quarta-feira, janeiro 18, 2012

Sobre raízes eternas e ternas.


  Em tempos de outrora fora o verde que tingira o clima até então primaveril, ao passo que o cenário vestia-se com a mesma vida das efusivas flores; e com o aroma doce e suave das rosas dissimuladamente espinhosas.

  Mas hoje, os raios solares golpeiam a superfície de terra batida como forma de anunciar frívola e oficialmente a chegada de uma nova estação climática; enquanto a minha face, desnutrida e ressecada, jaz beijando o mesmo solo. No entanto, eu não quero desperdiçar o meu ínfimo tempo descrevendo o meu estado. Esqueçamos logo os golpes cálidos e o beijo amargo – quero perder-me na lembrança de quando éramos apenas um. 

  Vislumbro-te do local onde repouso, enquanto a vida ainda circula pelas minhas nervuras e pigmenta fracamente o meu limbo, e apesar de não mais haver raízes palpáveis que atem-me a mesma terra que te nutre, eu poderia fincar-me aqui perpetuamente – ou findar-me – através do amor que sinto; pois não lobrigo alicerce mais resistente do que este sentimento.

  Época de glória, vigor e renascimento fora a que eu vivi quando ainda estava contigo... Até o dia que conheci o outono e posteriormente o inverno. Os ventos fortes e frios recusaram o meu pranto e separaram-nos, e depois das tormentas e tempestades eu contemplei de longe o seu reflorescer na primavera seguinte; enquanto degustava o meu último nutriente – a solidão –, pois sinto que a morte implacável apresentar-se-á a mim neste verão. Mas não exijo que chores pelas folhas derramadas, porque há um pouco de mim em você inteira. Sempre houve e para sempre haverá; eu nasci de ti e tive que ceder o meu lugar para a outra geração.

  Talvez mãos macias e complacentes, percebendo o quanto eu agonizo e admiro-te de longe, tentem unir-nos de volta. Mas em breve chega o outono novamente, e a ausência de um pecíolo preso a uma bainha – e esta ao seu caule – fará com que eu vá embora, e em paz, por saber que a sua vida é também a minha.  

 Bem, estou feliz com esse texto apesar de achar que ele não ficou como eu pretendia. Nunca pensei que relataria o amor de uma folha caída pela sua árvore, mas aí está. Espero que vocês tenham gostado desse amor e dessa vida que se renova a cada folha que nasce; lembrem-se que sempre haverá um pouco das folhas que caem em todas as árvores que permanecem inteiras e robustas. Grande beijo, fiquem com Deus.

3 comentários:

Taynná disse...

Gente, ela e seu vocabulário fantásticos, seus adjetivos e substantivos quase Machadianos!
Fiquei até com vergonha do meu texto agora que li o seu...
Boa sorte Carol, embora eu bem saiba que você não precisa de sorte...

Beijo!!

Marcos de Sousa disse...

E depois eu quem sou dramático, né Caroline? HAUSAHUASHASUSAHSA

O texto ficou lindo, surpreendeu-me grandemente. Apesar de um pouco triste e dramático, está maravilhoso.

Beijos

Bárbara O. dos Santos. disse...

Confesso que tive que ler duas vezes pois sua escrita tão rebuscada está em um nível acima dos outros textos que vemos pela blogosfera e precisei de um pouco mais de atenção e sensibilidade.Mas esse dificuldade que tive foi boa para exercitar minha interpretação e expandir o vocabulário e de quebra me encantar de novo com mais um texto seu.
Lindo e sofisticado.
Seus textos estão evoluindo cada vez mais e com certeza a leitura do seu blog ajuda a outros bologueiros, como eu, a evoluirem também.:)

Beijão!!