quinta-feira, janeiro 20, 2011

Sem sóis, a sós.

  
   O gigante, então, desfalece em si próprio e toda a sua agonia ecoa nítida e retumbante, intensificando-se a cada novo tormento e principiantes lamúrias. O céu soluça com o semblante desbotado a dor que acumulou silencioso. O sorriso amarelo e corriqueiro, quente feito o fogo, fora encoberto pelo anuviamento cinza-claro, nada fulgurante quando posto em paralelo com os relâmpagos.  
   O céu grita choroso toda a sua angústia como criança desamparada, recentemente órfã. Não há braços para envolvê-lo enquanto a sua melancolia é exposta – exposição de tristezas sem espectadores, ou viva alma, para lançá-la olhares de admiração.
   Outrora, em dias em que o sol beijava o imenso azul – nos quais as folhas farfalhavam calmas ao vento – a brisa era melodia e o céu um grande espetáculo, muitos lhe concediam amizade, enquanto, as suas faces ostentavam sorrisos iluminados. Hoje, todo ser humano, de sentimentos humanos ou não, evadiu-se da sua presença, indo ao encontro de seu aconchegante e quente lar. Ao passo que o céu urge e arqueja entre trovões.
  Os rostos, então, evaporam-se como água ao atingir cem graus Celsius. Induzindo-me a pressupor que até mesmo a felicidade e a contemplação tenham o seu ponto de ebulição. E, assim, vejo a ironia crescente e incisiva: Enquanto o calor abandona-o e a chuva gélida, quase feroz, derrama-se abraçando a face terrestre – confundindo e fundindo-se as lágrimas do céu – é nesse momento, de não-calor, que os sorrisos abandonam os lábios e transformam-se em vapor.
  Indago-me aturdida e confusa se fora a gratidão ou o amor que, audacioso, ousara a me conduzir deliberadamente para clímax da tempestade. Ainda que as minhas palavras de consolo caiam por terra, rendendo-se de joelhos ao tentar transpassar a atmosfera, manter-me-ei aqui. Embora, o vento sopre risonhamente contra, como um parceiro que insiste em bailar no amplo salão movendo-se em direção contrária. Ainda assim, boquiaberta, eu observo com deleite o seu choro lavar a minha face. É somente fase, e rogo para que não a temam, mas sim compreendam e respeitem a sua dor  ou desamor.

  Comecei esse texto anteontem quando, antes do dia dizer adeus, começou uma chuva muito forte aqui, fazendo com que a rede elétrica parasse de funcionar - justo na hora em que vazia um selo. Enfim, sem energia, e após admirar da varanda de casa a chuva mais bela que já vi, corri feito uma louca até o meu quarto, agradecendo ainda não ser noite, peguei um folha qualquer e uma caneta e comecei a escrever, enquanto o barulho dos trovões me dava pequenos sustos. Enfim, espero que gostem e agradeço aos comentários que sempre me alegram muito. Ah, viva a eletricidade ^^  Grande beijo!                    

23 comentários:

Anônimo disse...

lindo, eu amei, brilhante!

Maiara disse...

Sim, viva a eletricidade! Por ter lhe permitido compartilhar esse texto que me arranca as palavras. E por permitir-me lê-lo e ficar com um sorriso satisfeito e bobo colado no rosto.
Todas as vezes que venho aqui, me surpreendo com a grandeza que são os seus textos. A sensibilidade, os detalhes sempre tão acesos e perceptíveis... Enfim, parabéns pelo dom. É realmente um lindo dom.

Beijo grande. ^^

Felipe. disse...

Oi, Ca, tudo bem?
Eu não só adorei o texto, como também adorei a maneira como ele surgiu. Escrever à mão é tão bom, não é? Parece que a gente coloca ainda mais verdade nas nossas palavras.
Lindo!
Beijo e obrigado pelo selo, meu anjo.

Italo Stauffenberg disse...

a internet apronta muitas comingo tbm ainda mais quando a chuva aparece! gosto tanto desse blog, nossa, vc escreve mt bem. parabéns!

'-'

SELO pra vc no blog! http://migre.me/3ImJY

Laís Pâmela disse...

lindissimo, amei demais.

Isabelle M. disse...

Quando eu vou ler algo seu, que não vou me identificar, me fala?!
Hahaha...

Lindo, de verdade!
A chuva inspira muito a escrever, né?! Sempre que chove, parece que acende algo em mim...São quando saem meus melhores textos!
E esse seu está - como sempre - maravilhoso! :)

Você é carioca, né?! Tá tudo bem? Sei lá, com toda essa tragédia, né, vai saber...
Enfim, espero que você e toda a sua família estejam todos bem.

Mil beijos.

Clara disse...

Esse texto me deu a impressão mesmo de ser meio 'molhado' e fresco. Me trasmitiu uma sensações muito boas, apesar de pra mim não ter um sentido muito literal. A beleza e o sentimento às vezes não faz sentido mesmo, neh?

Muito bonito, gostria muito que chovesse aqui, talvez uma parte da minha inspiração também voltasse...

Abraço apertado, menina!

Dani Ferreira disse...

Me senti como se estivesse no meio desse cenário, como disseram "molhado". Uma sensação de leveza e calmaria, apesar de toda a chuva rs.
Bgs :*

Jéssica F. disse...

Meu Deus, estou boquiaberta e sem palavras, que escrita intensa e cheia de metáforas, admirei! estou seguindo já, bjs :)

Gabriele Santos disse...

escrever a mão é ótimo e ainda mais neste cenário que você descreveu.
Ficamos com inveja (rsrs)
Parabéns flor, seus textos só fazem melhorar.

Giovanna Lundgren disse...

Estou boquiaberta, queria conseguir escrever assim, com palavras tão bonitas.
e Viva a eletricidade.
tou seguindo.
beijos

Tânia T. disse...

"Mas hoje eu sei que volta sempre o sol, e o escuro da noite vai clariar..."

Seu post me fez lembrar dessa música.. conhece?

Belo texto.. belas palavras! Encantador!

=D

bjoo

Maiara disse...

Eu adorei a ideia do novo tema no Bloínquês, e me sinto lisonjeada por ter feito parte dela mesmo que involuntariamente. E acredite, essas coisas me deixam com os dedos mudos por algum tempo.
Fico realmente muito feliz.
E seria uma verdadeira honra escrever um texto com você. O privilégio seria inteiramente meu.

Beijo grande. ^^

Mailson Furtado disse...

Belo post!

Belo blog...

Parabéns, muito bom!!!

Convidaria vc a conhecer minha poesia..
Ficaria feliz demais!!! http://mailsonfurtado.com

Anônimo disse...

Bendita seja essa inspiração trazida pelos raios!!! Você deu a eles uma excelente resposta. rsrs
Adorei teu texto e a forma como você escreve.

JhonSiller disse...

Muuito obrigado. senti sua falta tbm

Tiago Betel disse...

Não é incomum que a chuva e sua parentela tragam esse sabor, mas desta vez foi mútuo, incontestável...Parabéns!

Auricio disse...

Carol, eu já disse que sempre me impressiono com a forma que você usa as palavras e fazem todas se encaixar?! Se não disse, estou dizendo agora, e se já disse, volto a dizer.
Nunca tentei escrever textos assim, cheios de entrelinhas e citando personagens irreais, algum dia vou tentar...
E viva a eletricidade, ela também contribuiu para seu texto ser publicado... Fiquei imaginando você escrevendo em uma folha e se assustando com o barulho dos trovões.


Beijo!


P.S.: Deixei um recado em especial para você no meu blog. Por tudo e também pela referencia ao meu blog.

Unknown disse...

Adorei o post!!!
depois visite meu blog!!!
http://thelovelily.blogspot.com

Anônimo disse...

caramba! quanta inspiração!! amei seu blog flor, amo demais ler textos do mais variados tipos, me inspiram !

Beijo e parabéns de verdade pelo seu blog que ta ótimo

Tânia T. disse...

Oii

Obrigada por retribuir a visita!! \o/

Obrigada pelo carinho!! Desejo tudo em dobro pra você!!

Brigadãooo!!!


Ahh.. to seguindo seu cantinho, ok?

xD

bjoooo

Unknown disse...

Ah! Você não sabe como vibrei aqui atrás da telinha! Intensidade e sentimento, suas palavras sempre são renovadas na minha leitura. Adoro passar por aqui!

Maiara disse...

Carol, passei para avisar que deixei um selo para você lá no meu cantinho. Quando li a proposta do mesmo, não pude deixar de pensar em seu blog. ^^

http://maiaraentrelinhas.blogspot.com/2011/01/selos.html

Beijos.