quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Um passo de cada vez.


  Embora, a cor cinza seja quem tingira o céu nessa manhã de outono, o azul metálico da bicicleta cintila contente em resposta aos raros raios de sol que o beija. A grama, baixa e viçosa, se estende deleitosa; Derramando-se ao lado do lago e da singela estrada que o contorna – enquanto, ambos especulam sobre a única personagem que decora cenário tão belo, e torna-se um elemento tão essencial, no espetáculo matinal, quanto a própria natureza.


  A moça enfeita a bicicleta e, aprumada sobre as rendas e babados da sua roupa, põe-se a contornar o lago – tão silenciosa e quieta quanto o movimento da água escura. O vento sereno das seis – vestígio da madrugada, beijo de adeus – agita alguns fios do seu cabelo, assim como, os seus pensamentos.

  Atrás de si, ela vê o passado obstinado em sua perseguição. Ele acena sarcástico e por vezes a convida a fazer uma pausa, cessar as pedaladas e correr para abraçá-lo; Mas ela se nega, pois a fadiga de se enlaçar as lembranças, somente recordar e não viver, é notória em sua densa respiração. A jovem encara o futuro e o almeja, enquanto, organiza cautelosamente em sua cestinha todas as suas expectativas e sonhos.

  As duas rodas giram e giram ininterruptas, ao passo que o dia executa o seu amanhecer, e a lenta rotação conduz os espectadores ao ébrio. A essa hora todos dormem, porém, o planeta Terra parece bailar no mesmo compasso da rotação das rodas feitas de borracha. Borracha gasta e velha, que atua perfeitamente na ineficácia do freio – ela sussurra para si. E ao perceber o quanto o seu coração tamborila lento, balbuciando os batimentos cardíacos, se assemelhando as rodas antigas, um sorrisinho veste os seus lábios. 

  É a quinta vez que ela passara pelo mesmo lugar no parque; Contornando-o pela última vez, ela despede-se da árvore, que a observa em silêncio, e decide tomar um rumo afinal. Sobre as duas rodas ela desvia pela primeira vez o olhar do lago, do cimento escuro e da grama rasteira. Assim, também, ela se desviou da sua rota contínua e perpétua; Pois a resposta para as suas perguntas sobre o passado, presente ou futuro não estará, obviamente, em andar em círculos. E, ainda que surrado, o seu coração ainda é capaz de amar.
  
   A menina, então, abandona a bicicleta em um canto qualquer do parque; E guarda os seus sonhos e expectativas no peito, para que o novo oxigênio que a invade possa mantê-los sempre vivos, respirando. Ela avista a felicidade que a espera ao longe e decide por ir caminhado, sem pressa, livre de tantas ansiedades ou temores. Um passo tranquilo após o outro, é assim que a jovem vai de encontro ao que a torna feliz.

Pauta para 55ª edição visual, Blq.


 Sinto-me um tanto aliviada por escrever um texto meigo, eu diria, após tantos outros relacionados a decepções amorosas ou tristezas. Mas, lembrem-se, nem sempre eu transcrevo o que sinto. Grande beijo a todos, de coração!                                                                         

26 comentários:

Anônimo disse...

Muuuuuuito lindo! parabéens
http://garotasnasruas.blogspot.com/

Juliane Bastos disse...

Ah que perfeição *O*
Teu blog tá um amor :D

Anônimo disse...

eu me vi no seu texto, de verdade. meu olho está brilhando, muito obrigada. parabéns, adorei.

Maiara disse...

Identifico-me tanto com a sua escrita. E o modo como você disse que nem sempre transcreve o que sente, comigo é o mesmo.
E esse texto está tão delicado e sereno, com todos os seus detalhes descritos com notável atenção - da cor da bicicleta ao movimento da água. E isso me provoca um enorme fascínio.
Sinto-me cada vez mais maravilhada com cada texto que desfruto aqui. A cada linha por onde meus olhos passeiam um novo suspiro me escapa. E por esse estado de êxtase, esqueci-me de comentar no texto passado sobre a nova aparência do seu blog, e ela está linda. Gostei da ideia das flores saindo da arma, transmite um apelo de paz silencioso.

Um beijo, querida.

Flávia Andrade disse...

Você escreve muito bem *O* e esse texto está muito lindo, uma bela história descrita em lindas palavras. E eu me identifiquei muito nesse texto mas, ainda está dificil para de olhar para o passado e olhar para o futuro, para de andar em círculos procurando uma resposta que pode estar em um caminho que ainda não tive coragem de percorrer. ´Parabéns pelo blog é muito fofo ;*

Clara disse...

Um das coisas que mais gosto é andar de bicicleta. E, pela menhã com o vento fresco no rosto é uma das melhores sensações que existe: de se sentir viva. Seu texto pr mim me traduziu isso. A solidão da manhã, os pensamentos sobre a vida e a natureza.

Adoro!

Laryssa disse...

Lindo amor!
Seu texto ficou tão descontraido quanto uma passeio de bicicleta(por que será?). Obrigada por me proporcionar uma leitura tão agradável!

Beijo no ♥!

César Dias. disse...

Simplesmente fantástico, você escreve muito e cada vez mais tenho vontade de ficar por aqui.
Abraço parabéns.

Jaynne Santos disse...

Obrigada meu anjo :)
Fico feliz que goste de visitar meu blog, saiba que sempre estou aqui no seu também. Suas palavras sempre me encantam de uma forma inexplicável. Ás vezes leio seus textos e quando vou procurar palavras para descrever, elas simplismente fogem.

Esse texto seu teve a capacidade de com palavras simples e doces me puxarem para dentro da estória, e fazer de mim uma personagem, que ao mesmo tempo em que passava os olhos sobre as linhas, se fazia parte delas também.

Beijos;

Unknown disse...

meigo, muito lindo flor.
É difícil deixar de olhar para o passado, andamos em circulo remoendo vários sentimentos que deveriam estar seguindo adiante, á frente , avante.
Mas, um dia nos cansamos, nós despertamos e então acordamos para um belo futuro que espera ansioso ser construido. *_*
--
enfim, seus textos são lindo guria, grande beijo.

Unknown disse...

Carol, minha flor, às vezes fico sem palavras para explicar o sentimento que tenho após ler seus textos. Tão ricos... É uma belíssima discrição que você faz em meadas postagens daqui. Falo sério quando aqui é um dos grandes blogs que eu conheço e admiro. Carol Alencar (O "Alencar" é do José de Alencar)rs
Seus detalhes são maravilhosos. Seu cantinho é encantador.

Felipe Sali disse...

Você sempre escreveu muito bem. O mais legal é que seus textos não tem uma linha de tempo, esse por exemplo poderia ser usado para descrever um segundo de vida.

Cynthia Brito disse...

Está linda tua história, Cáh.
Gosto muito de me deliciar com esses teus docinhos de amor. Sabes, eu adoro quando as pessoas detalham os acontecimentos. Para mim, quanto mais detalhado, melhor. (Deve ser por isto que falo demais) E chamam-me a atenção em tua escrita as metáforas que usas, a forma explícita como defines cada elemento, como demonstras os sentimentos, como cantas a melodia da natureza, quando descreves em detalhes cada ser, cada personagem, enfim, quando descreves toda a história.
Eu fico aqui pensando por quê sempre me apaixono por teus textos. E não sei se é a resposta ideal à esta pergunta, mas eu me encontro neles; algumas vezes como se eu estivesse narrando, outras como se eu estivesse sendo personagem da história ainda que fosse como participação especial.
É uma coisa muito linda. Parabéns!

É com muito carinho que te indico uns selinhos que estão postos em meu blog, e espero que gostes.

Com amor,
Cynthia *

Dani Ferreira disse...

Meigo mesmo Cah. Que bom que agora esse momento está mais tranquilo pra você. É sempre bom sentir isso, você sabe passar essa sensação boa nos seus textos *-* A caminhada da personagem fez bem até pra mim rs. Deu vontade de sair por aí de bicicleta olhando e acenando para o passado riri.
Boa sorte na edição (:
Bgs :*

Maíra K. disse...

Nóes escritores e/ou poetas não escrevemos apenas o que sentimos, mas sobre tudo e todos que estão ao nosso redor. E esse texto, menina, está divino e, como você mesma disse, meigo. Você conseguiu captar um momento que durou apenas alguns segundos e o transcreveu em belas palavras! Boa sorte no concurso!

Débora Ramos. disse...

Ain, dona Carol.. Eu tô um saco esses dias, não é? Mas prometo que vou melhorar, abrir os comments again e não abandonar mais as pessoas que eu gosto tanto e que escrevem tão bem como você! Não sei se você conhece o Marcelo, do blog Estranhos, mas comentei no blog dele uns 2 dias atrás sobre isso. Vai passar logo logo (espero) e um milhão e trzentos milhares de desculpas por tudo! Não desistam de mim, rsrssrs.

Beijo pr'ôce e até breve!!

Você é uma das minhas escritoras preferidas, do ladinho da Ana Jácomo ^^

Beatriz Karen Lopes disse...

Ual, que delicia de texto *-* . Adorei seu vocabulário, as palavras nobres que você soube empregar perfeitamente com o decorrer do texto. A cena é linda, descreve perfeitamente como uma pintura. Sério, você tem muito talento menina! Parabéns, e beijos :*

Maiara disse...

Ah querida, obrigada. ^^
E sobre o destaque, os seus textos me envolvem tanto que às vezes acabo por esquecer de ressaltar certas coisas nos comentários, mas eu senti-me inteiramente privilegiada por tê-lo ganho junto com você. É sempre um honra.

Beijo grande. :)

Anônimo disse...

Um passo após outro pra encontrar a felicidade, é esse meu mantra ultimamente :)

Maiara disse...

Não há o que se desculpar, essas comparações feitas por você não desqualificam o outro, não há esse propósito em suas palavras, muito pelo contrário. E você não sabe o quando os seus comentários me deixam feliz, é sempre um grade prazer ter a presença dos seus olhos envolta em minhas palavras. E eu só tenho a agradecê-la por isso, e por deixar sempre palavras magníficas para serem apreciadas por mim, e por todos.

Um beijo. ^^

Alexandre Lucio Fernandes disse...

É meio que um desprender-se. Uma forma de seguir a velocidade que a vida nos oferece. É preciso seguir o caminho de forma branda, suave, e ao poucos inteirando-se dos sinais do percurso. Só assim topamo com os elementos capazes de nos fazer crescer. Sempre no momento certo.

Lindo texto Carol!!

Beijinhos!

Maiara disse...

E eu já estou aqui de novo para avisar que indiquei uns selos a você, e todos são mais do que merecidos. ^^

http://maiaraentrelinhas.blogspot.com/p/selos-e-afins.html

:)

Minne disse...

Caroline, já te disse que escreves maravilhosa e encantadoramente bem ? Se não o disse, está gravado aqui e agora. Andar de bicicleta pela manhã ou noite é realmente reconfortante para mim, creio que seja para qualquer um que deseja desligar um pouco sua mente dos problemas que tanto à atormentam, deixá-la no piloto automático e só sentir o vento acariciando o rosto. Por vezes, saímos do rumo da nossa felicidade, mas ela tenta nos encontrar em uma esquina ou outra, para muitos ela passa despercebida, mas para os que realmente a almeijam, ela será vista, e conquistada. Graciosas palavras as suas, eu realmente adoro o jeito com que descreve pequenas coisas. Beijo Caroline :*

Nathália Pires disse...

ah, que fofo, amei de verdade, você escreve bem, nunca vou esquecer da menina da bicicleta =*

Thiago Brito disse...

Nossa, gostei muito do seu blog, li texrtos muito bons aki!!
te seguindo aggra!!
dá uma passada no meu e vê o que acha!
http://essenciaego.blogspot.com/

bbjo

manie disse...

seu blog é uma gracinha çç